Sessão de Cinema

O Clube dos Cinco/30 Anos

Basta ouvir Simple Minds cantar Don?t You (Forget About Me) no original (não as releituras): você está nos anos 1980. Precisamente e...

João Nunes
29/03/2015 às 11:22.
Atualizado em 23/04/2022 às 18:19
O Clube dos Cinco/30 Anos (João Nunes)

O Clube dos Cinco/30 Anos (João Nunes)

Basta ouvir Simple Minds cantar Don’t You (Forget About Me) no original (não as releituras): você está nos anos 1980. Precisamente em 1985, portanto, 30 anos atrás. E dentro de O Clube dos Cinco (The Breakfast Club), filme clássico juvenil escrito e dirigido por John Hughes (1950-2009).  

Quem foi jovem naquele momento vai se lembrar fácil. Para quem não conhece, eis os tais cinco do clube: Andrew Clark (Emilio Estevez), Brian Johnson (Anthony Michael Hall), John Bender (Judd Nelson), Claire Standish (Molly Ringwald) e Allison Reynolds (Ally Sheedy)  

Por terem se comportado mal na escola, cinco adolescentes são obrigados a passar juntos um sábado inteiro redigindo texto com mais de mil palavras sobre o que eles pensam deles mesmos. Como resultado, vão se conhecer melhor e serão confrontados nas naturais diferenças e dividir os respectivos dramas pessoais.  

Numa ótima sequência, são deixados na sala de aula e, como não sabem o que fazer, ficam olhando embasbacados um para a cara do outro. A primeira ótima sacada vem de Brian Jonson, em citação direta da música dos Beatles. “I am a walrus” (eu sou uma morsa), diz enfiando a caneta no nariz e abrindo a boca.  

Segundo o crítico de cinema da Folha de Pernambuco (Recife), Luiz Joaquim, John Hughes foi o Midas das tramas juvenis na década de 1980. Para ele, O Clube dos Cinco é uma espécie de fábula que serviu de espelho para todos os adolescentes de então, concentrando-os em cinco personalidades atemporais eternas: o revoltado, o esportista, a princesinha, a estranha da turma e o estudioso.  

“Isolando os cinco protagonistas/antagonistas na escola em pleno sábado como castigo, Hughes criou tensão não para separar, mas para unir as diferenças e relativizar os preconceitos que todos trazemos e derrubar os estereótipos habituais”, diz o crítico. “Foi uma espécie de avô do Big Brother – só que “do bem” –, que inspirou toda uma geração que passou a olhar o outro como quem olha para si mesmo”.  

Para o crítico Pedro Martins Freire, do site Cinemaeartes.com.br, baseado em Fortaleza, o anos 1980 foram um período de grandes transformações para a jovens nascidos duas décadas antes, e nos quais Hollywood produziu alguns dos melhores filmes que expunham os questionamentos e ansiedades daquela geração, cuja inquietude era “herança” dos pais – afinal, tudo aconteceu nos anos 1960, incluindo a luta das mulheres pelo direito aos próprios corpos.  

“Particularmente, se deve a John Hughes, roteirista e diretor nascido uma década antes, a percepção desse olhar clínico dos jovens em transição. O Clube dos Cinco foi uma das películas que melhor expressaram, de forma delicada e sincera, aquela juventude em transformação. Daí obter reverência até hoje”.  

Renato Félix, crítico do Correio da Paraíba, lembra que o filme faz parte de um ano muito especial para o cinema jovem (ou para jovens). No mesmo ano foram lançados De Volta para o Futuro (Robert Zemeckis), Os Goonies (Richard Donner) e O Enigma da Pirâmide (Barry Levinson). Mas, de acordo com Renato, o trabalho de John Hughes se destaca por ser essencialmente um drama, pois diretor entendeu muito bem os adolescentes e o dilema do amadurecimento.  

“Ele colocou cinco estereótipos sozinhos em uma sala, de castigo numa manhã de sábado no colégio, para irem descascando o verniz um do outro e verem que, por baixo, eram muito mais parecidos do que pensavam. Aparecem os problemas familiares, o questionamento da autoridade, a aceitação entre eles e de si mesmos, e a carta ao professor na qual assinam como os estereótipos ‘como o senhor nos vê’: um CDF, um atleta, uma inútil, uma princesa e um marginal”.  

Segundo ele, ainda hoje é difícil ver no cinema americano de largo alcance esses temas tratados com seriedade e em um filme basicamente de conversas. “Hughes também era ótimo criador de imagens e usou isso para ir dosando os diálogos (a cena da fuga pelos corredores é emblemática). Eu tinha 11 anos quando o filme foi lançado e devo ter visto na TV uns dois anos depois. Nunca esqueci”.

*Publicado no Correio Popular de 29/3/2015

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