O circo do futebol

Futebol é apenas uma brincadeira de gente crescida. Dizem que é uma brincadeira séria. Desonestos intelectuais costumam afirmar isso e ganham honras por tamanha parlapatice, além de alguns cobres na conta bancária. E o futebol segue sendo o circo que é e cada vez mais enriquece empresários, boleiros e cartolas, além de executivos de produtos inerentes que promovem quem é o garoto-da-bola-da-vez — e quem paga o pato da conta é o torcedor passivo que compra canais esportivos para assistir aos jogos de seu time, sempre acompanhado da cerveja patrocinadora, ou do refrigerante da hora, sentado num sofá comprado em 24 prestações em uma das lojas das casas dos trapos e cacarecos.Já passei a fase da inflação do chuchu, da abobrinha e, agora, a do tomate. Mas as lojas não vendem mais móveis e, sim, créditos a se perder de vista. E poucos se aventuram a comprar futebol, um canto de arquibancada para sentar e torcer para o seu time, debaixo de chuva, sol ou ventania. Inventaram aí uma tal de arena multiuso onde torcidas organizadas se excitam em cadelagens violentas, animais no cio pré-histórico, promovendo orgias falsamente reprimidas que nem os mais bárbaro dos bárbaros imaginava.Futebol é apenas uma brincadeira de meninos que crescem e viram irmãos mais velhos, parentes e amigos que ficam mais velhos. Circo nunca tem explicação. Por que alguém se pinta para virar palhaço de circo? Por que alguém vira ator de novela, de teatro, de cinema? Por que alguém vira cantor de rock, de samba, de moda de viola? Por que alguém, como eu, vira cronista e fica se perguntando o que fazer no grande circo da vida?Faço nada e faço tudo. Mas tudo faço para não fazer nada o que afronta o espetáculo, a não ser gostar de futebol e achar um canto no estádio para ver a Ponte Preta entrar em campo e ficar em paz porque entramos em campo, mais uma vez, para honrar a tradição mais antiga do futebol brasileiro. Torcidas organizadas depredam a democracia e desrespeitam acordos firmados com o Ministério Público — sendo que as do Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos se negaram a tanto, pois apostam na violência como estratégia de vitória, financiadas com dinheiro de seus clubes, e dane-se o espetáculo, o circo dos torcedores honestos e simples. É isso. Bom dia.