Futebol e política sempre andaram de mãos dadas. E atadas. E a canalhice também. Futebol e política só não pegam na mão de torcedores e do distinto contribuinte. E bem me lembro, lá pelos anos sessenta, da esponja de aço na antena da televisão e da cartela de plástico azul, rosa e verde que nos dava a ideia de um céu de brigadeiro, de carne de jogadores e o verde dos gramados. Somos enganados, e gostamos disso, desde há muito tempo. Afinal, o circo foi feito para nos iludir.
E a televisão hoje é colorida e nos mostra até a acne da nossa jovem atriz, a celulite das nossas mais célebres madrinhas de escolas de samba e nenhum pouco da maquiagem usada por cartolas e políticos que deitam e rolam sob o carpete dos interesses da política e do futebol.
E enquanto times europeus lotam seus estádios com média de 38 mil torcedores por partida, aqui o Flamengo jogou com menos de 5 mil pagantes para vencer um Fluminense apático; o Corinthians perdeu diante de 11 mil contra o meu Linense materno; e o São Paulo, no Morumbi, se envergonhou diante de 9 mil torcedores ao perder para o XV de Piracicaba. Já o Santos, com Neymar fazendo o que bem sabe, encantou com quatro gols os 4 mil torcedores que foram vê-lo no campo do União Barbarense, e isso apenas para falar do óbvio e ululante Nélson Rodrigues, pois também fez o mesmo do mesmo do Palmeiras que, diante de uma porcadinha de 7 mil torcedores, ganhou de um historicamente encartolado Guarani.
O futebol brasileiro é uma diversão para poucos, acredite, brasileiros, mas que rende um dinheirão para menos ainda.
E o Maracanã está com vários meses de atraso; o Engenhão foi interditado; e dos R$ 12 bilhões a serem investidos em metrôs, linhas de ônibus, estacionamentos e aeroportos, o tal legado da mobilidade urbana, sabe-se apenas que a verba foi reduzida em menos R$ 4 bilhões e as obras ainda não saíram do papel.
Arena pra lá, arena pra cá, a Copa vem aí e o bicho vai pegar: a Fifa exigiu e o Brasil terá o maior cemitério de elefantes brancos do planeta: quem vai encher os estádios nos campeonatos regionais, estaduais e nacional? E Madona, Lady Gaga, Zé Mané do Rap, Stones, Elvis Presley, Chicão do Pancadão, Sangallo e Mercuris da vida já deram o que tinham de dar, ou por fadiga ou ausência mesmo de material interessante. E os clubes de futebol devem mais de R$ 5 bilhões aos cofres públicos. Ou melhor, aos nossos bolsos. E os cartolas continuam impunes e dando sustentação política a parlamentares que jamais irão criar uma lei que puna os incompetentes diretores dos nossos clubes de futebol — com aquelas supostas exceções de praxe, que são poucos contra muitos, ou quase nada.