JOAQUIM MOTTA

O Casal 120...

07/11/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 11:41

O milênio finalizou suas influências com momentos marcantes e categóricos. O século 20 mobilizou a cultura e a sociedade, chegando a realizações decisivas e transfigurações inusitadas. Entre as mais importantes, estão as reviravoltas ligadas à sexualidade.

O moralismo do Império Britânico e a rainha Vitória coordenaram os costumes até o final do século 19. José A. Arantes resume o contexto: “... as funções do corpo que a moral vitoriana e o conservadorismo interpretaram como obsceno”.

Interpretações como essa se sustentaram ao longo do tempo até que eventos revolucionários puderam questioná-las.

A filosofia de Nietzsche já polemizava os valores no século 19. O psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing publicava em 1886 “Psychopathia Sexualis”, marco fundador da Sexologia.

Freud, na virada do século XX, revelava a sexualidade infantil e desenvolvia a estruturação da psicanálise nas fases evolutivas do sexo.

W. Reich, em 1937, lançava o livro “A Função do Orgasmo”.

Até o início da II Guerra (1939), a Alemanha era o centro de referência mundial da sexualidade. Em Berlim, houve o primeiro congresso sobre o tema.

Fechando a quarta década, Kinsey divulgava o relatório da intimidade dos homens e mulheres dos EUA, enquanto na Europa a fenomenologia de Husserl e o existencialismo de Heidegger compunham o substrato da expansão da liberdade que Sartre incentivava.

Esse conjunto científico passou a focalizar a sexualidade como assunto sério e essencial, e os anseios filosóficos aspiravam pensamentos e condutas cada vez mais livres.

O terreno estava pronto para a extraordinária Revolução Sexual dos anos sessenta.

Na Exposição Internacional de Surrealismo em Paris sobre “O Erotismo”, no final da quinta década, André Breton profetizava que o assunto seria o “valor revolucionário da nossa época”.

A arte surrealista (Dali, Magritte, Miró, Tarsila) abastecia a humanidade com tudo que escapava à consciência, gabaritando o irracional, o sonho e a loucura. O círculo erótico se expandia.

O Romantismo, como arte, até hoje se sustenta pelo caráter clássico. O casal romântico também preserva o seu charme, agora mais solicitado para a atividade erótica.

Grande parte das barreiras moralistas foi derrubada e o mundo começou a entender a importância da saúde sexual e do erotismo livre.

Nos anos oitenta, delineia-se a afirmação definitiva da homossexualidade, das orientações intermediárias, bissexualidade e movimentos flexíveis.

Simultaneamente, ocorrem as irrupções feministas, alinhando homens e mulheres, facilitando a liberação da mulher e a fruição erótica correspondente.

No final do milênio (1998), surge o sildenafil (Viagra), promovendo a maior revolução química da sexualidade masculina.

Na década atual, a vida média aumenta progressivamente, as pessoas maduras também sentem o impacto revolucionário sobre a libido. Elas fazem sexo cada vez mais velhas. E envelhecer está na moda...

Mulher e homem com mais de 60 anos já se conhecem intimamente há alguns anos. Programam novo encontro. Ela se produz, se arruma com esmero e alguma ousadia. Imaginando que ele se animará ao perceber que não vestiu um sutiã, começa a sentir a vagina lubrificada. Lubrifica tanto nessas ocasiões que a sua ginecologista chegou a duvidar... Ele se apronta também com capricho e toma um sucedâneo do sildenafil. Quando se deitam à cama, ele sente uma cólica intestinal, tem que ir ao banheiro. Toma outro banho, volta à parceira. Nem bem recomeçam a se tocar, ela tem cãibras numa perna. Ele a massageia, a dor melhora, eles retomam as carícias. Voltam as cólicas abdominais, ele sai correndo. Outro banho, retorno à cama, reanimam-se outra vez, repete-se a cãibra! Depois da melhora, ele reaproveita a massagem em carícias e os dois, depois de muitas risadas, prosseguem no sexo sem interrupção.

Prazer atendido, sorrisos repetidos, lembrando o casal 20 da década de 80, eles somam as próprias idades e se denominam “Casal 120”...

Este texto será vertido ao Inglês pela profª Sandra E. Figueiredo e postado na internet.

Lembro ao leitor do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). Acompanhe pelo site www.blove.med.br nossas iniciativas e programações (grupos de estudos, debates culturais, palestras, reuniões sociais e festivas).

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