opinião

O Brexit e o nacional-populismo europeu

Reinaldo Dias
11/04/2019 às 12:26.
Atualizado em 04/04/2022 às 10:24

A crise migratória de 2015 na Europa deu início a uma reviravolta política que colocou muitas lideranças nacional-populistas, de direita e extrema-direita, à frente de governos nacionais. Essas formações políticas se caracterizam por ter uma retórica baseada na xenofobia; defendem políticas contra imigrantes, pelo retrocesso em medidas contra o machismo e um claro repúdio à integração europeia.  O nacional-populismo cresceu defendendo a oposição ao projeto da União Europeia (UE) e fortemente associado a políticas contrárias à imigração. Eurocéticos e xenófobos, caracterizam bem o pensamento ultraconservador dos nacional-populistas europeus. Atualmente na Europa há governos controlados pela extrema-direita na Itália, Áustria, Hungria e Polônia. Na Alemanha e na França, os extremistas formam uma oposição consolidada. Há avanço dessa corrente política na Eslováquia, República Checa, Holanda, Suécia, Dinamarca e Inglaterra. Quando o Brexit surgiu no Reino Unido foi abraçado fortemente pelos nacional-populistas que viam no sucesso da empreitada britânica um movimento que poderia ser imitado em seus respectivos países, formando uma grande onda de saída do bloco europeu. No entanto, o Brexit se arrasta há mais de dois anos em negociações desgastantes. Sua longa marcha chega a última etapa e o resultado do processo é mais do que negativo. Se há algo positivo provocado pelo Brexit é a guinada dada pelos partidos de extrema-direita em todos os países europeus, que também reivindicavam a realização de referendo para forçar a saída de seus países da UE. Após o vexame britânico deixaram de lado essa proposta, preferindo concentrar sua atenção no repúdio à imigração, como elemento central de suas propostas políticas, no fortalecimento das fronteiras nacionais e na recuperação das competências transferidas às instituições comunitárias europeias. O Brexit colocou em evidencia os altos custos envolvidos nas negociações. Além disso, a retirada do Reino Unido da UE significará uma maior divisão e fragmentação da representação política e da sociedade britânica e, consequentemente, uma menor capacidade para defender seus interesses nacionais e a cidadania britânica diante de influencias e ingerências externas. Ou seja, com o Brexit conseguirão o oposto do que desejavam que era maior soberania fora da UE. Até o momento, o resultado do Brexit mostra uma sociedade dividida, partidos políticos mais frágeis, um consenso social e político cada vez mais distante, um país menos soberano e a possibilidade de uma separação caótica com altos custos econômicos. Os partidos políticos nacional-populistas entenderam rapidamente as dificuldades da negociação empreendida pelo Reino Unido, os custos que implicaria a saída da UE e seus impactos na forma de divisão interna em seu eleitorado, submetidos a enorme tensão de uma negociação cujo saldo dificilmente poderia ser favorável aos seus interesses nacionais. Por isso mudaram sua estratégia de demolição da UE e definiram objetivos diferentes como a construção de uma narrativa alternativa para esvaziar de conteúdo político o projeto europeu, reduzir gradativamente as competências das instituições comunitárias e o orçamento comunitário que as sustenta, debilitar as políticas comuns e deixar a UE esvaziada, particularmente em tudo que se refira a políticas de solidariedade e coesão econômica, social e territorial, na qual predominaria um mercado único livre de todo tipo de amarras e regulações comunitárias. Com esses novos objetivos em mente os partidos nacional-populistas tentam unificar sua ação buscando ampliar sua representação no Parlamento Europeu, onde aspiram tornar-se uma força política de peso podendo ser decisivos na definição da agenda e nas prioridades políticas, bloqueando todas as iniciativas que fortaleçam os laços comunitários dos países europeus. Sem sombra de dúvida o problema mais grave que a União Europeia enfrenta nesse momento é o ataque ao Estado de Direito. Vários países europeus buscam acabar com alguns elementos básicos dos valores europeus como a proteção de liberdades individuais, a independência de meios de comunicação ou a separação de poderes. Dois países se destacam ao trilhar claramente esse caminho que são a Polónia e a Hungria. O que acontece hoje na Europa diz respeito a todos nós, trava-se naquele continente a batalha pela continuidade do processo civilizatório diante do retrocesso representado pelas posições da extrema-direita. É uma luta que tem várias frentes e ocorre em todo o mundo. Não por acaso os partidos nacional-populistas de inúmeros países saudaram a vitória de Jair Bolsonaro. Nesse quesito a Europa é o principal campo de batalha e seus desdobramentos terão reflexo global.

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