Coluna publicada na edição de 22/6/19 do Correio Popular
“Hoje não se ganha mais com a camisa, cada vez está mais equilibrado. O nível das equipes está muito igual e as partidas são cada vez mais parelhas.” A análise é de Lionel Messi e foi feita logo após o empate suado por 1 a 1 com o Paraguai, adversário que nunca conseguiu vencer a Argentina na história da Copa da América. O tabu só não caiu porque o goleiro Armani defendeu um pênalti. Ao dar essa entrevista, Messi também citou o empate entre Brasil e Venezuela. E certamente não imaginava que, horas depois, o tão elogiado Uruguai pudesse empatar com o Japão por 2 a 2. Ao final dessa partida, um comentarista do Sportv fez a seguinte avaliação: “O Uruguai não jogou mal, não”. Notem que o adversário era uma seleção olímpica de um país sem tradição no futebol. E, importante destacar, o jogo teve dois erros graves de arbitragem (com VAR e tudo) contra os garotos japoneses. Mesmo com tudo isso, a análise foi de que o Uruguai não jogou tão mal. Para chegar a essa conclusão, o comentarista levou em consideração que os uruguaios tiveram mais posse de bola, criaram várias chances de gol, acertaram a trave, etc... Por esse prisma, é possível afirmar que o Uruguai “não jogou tão mal”. O problema é que o Brasil jamais é analisado com os mesmos critérios. O Brasil teve uma absurda posse de bola contra a Venezuela, permitiu que o adversário finalizasse apenas uma vez e ainda fez três gols, todos anulados. Mas ninguém levou isso em consideração para afirmar que o “Brasil não jogou tão mal”. Ao contrário, as críticas foram pesadas, o resultado foi considerado humilhante e muita gente pede a demissão de Tite, um treinador que acaba de completar dois anos à frente da Seleção Brasileira. Seu retrospecto é de 30 vitórias, seis empates e duas derrotas. Foram 83 gols marcados e dez sofridos. Eu acho que Tite começou de forma espetacular e que o rendimento caiu após a Copa do Mundo. Mas será que, diante desses números, não dá para falar que o Brasil “não está tão mal assim”? Qualquer tropeço da Seleção é um vexame, uma prova incontestável da incapacidade de Tite. Mas elogiamos demais o trabalho de Óscar Tabárez, mesmo depois de um empate (com ajuda do juiz) no duelo entre Suárez e Cavani e Ueda e Tomiyasu. O futebol brasileiro não chegou ao fim, como muitos afirmam. É indiscutível que, ao contrário de outras épocas, a geração atual tem apenas um jogador extraordinário. Mas ainda temos uma seleção competitiva, que, assim como as outras, encontra dificuldades diante de adversários fracos que evoluíram nas últimas décadas.