CHEF LAURO

O bom e velho miojo

Lauro Lucchesi
18/04/2013 às 07:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:53

Ele é um fenômeno: para cada pessoa que o odeia, mil e trocentas o idolatram e o amam de paixão. São consumidos, por ano, mais de 95 bilhões de pacotinhos no mundo todo e ele é o carro chefe do que se convencionou chamar de comida de emergência ou cozinha portátil. No Japão é unanimidade: pesquisa realizada pelo Instituto Mizuho no ano 2000 para apontar qual a mais importante invenção do século 20 naquele país ele ficou no top do ranking, desbancando o karaokê e o walk man.

Com vocês, o macarrão instantâneo que, no Brasil, se popularizou e, genericamente, é conhecido como Miojo. Fácil e prático de preparar, o macarrão instantâneo dispensa apresentação, bula, tempo e qualquer tipo de habilidade ou destreza na cozinha. É a salvação de muitos solteirões, dos que chegam cansados e famintos após uma balada; é a solução mágica para as mães com filhos birrentos frente a um prato de legumes e cereais e de uma renca de adolescentes que embarca com a galera para uma temporada de férias na praia.

E, pior, o danado é gostoso, tem lá um saborzinho que até convence. Ou estou errado?! Gostem dele ou não, exceção feita ao seu alto teor de sódio, vergonha que compartilha com a maioria dos produtos industrializados no Brasil (chega a 1.607 mg de valor diário necessário) é, sem dúvida, uma grande invenção da cozinha moderna.

A indústria alimentícia trabalha de olho nas necessidades do homem urbano; não é ela que deve ser condenada pelos hábitos modernos do homem e sim o próprio homem, que põe em risco sua saúde e integridade se alimentando de maneira precária. A função primeira da tecnologia, incluindo aí a área alimentícia, é inovar e assim facilitar a vida das pessoas.

Bem, o macarrão instantâneo, como o conhecemos hoje, tem lá sua história. É originário do ramen, um macarrão chinês muito longo feito de farinha de trigo e ovos que, cozido em um caldo de carnes e legumes se obtém o lámen, um dos mais populares pratos da gastronomia japonesa. Acredita-se que foi levado para o Japão no século 17, mas, devido o uso da farinha de trigo, era comida para poucos; no século 19 era servido apenas em alguns restaurantes luxuosos de Tóquio a preços altíssimos. 

Somente no início do século passado, com o advento da industrialização e com a chegada de alguns chefs chineses, foi dada a luz verde para a sua popularização, passando o lámen a ser vendido nas ruas em barracas e carrinhos de ambulantes, tradição até hoje mantidas na terra do sol nascente. Nos primeiros anos do pós-guerra, observando as longas filas que se formavam nas ruas para se conseguir uma tigela de lámen, o taiwanês Momofuko Ando, naturalizado japonês, deu inicio a pequenas experiências em sua tímida fábrica de massas artesanais, que mais tarde se tornaria a Nissin.

Em 25 de agosto de 1958, Ando lançava o chiken lámen, o macarrão que em apenas 3 minutos estava pronto para ser consumido. Em poucos meses, sua produção de 300 unidades saltaria para 6 mil porções diárias. Diferentemente de outros tipos de macarrão, cuja origem se turva entre as névoas dos séculos, o macarrão instantâneo tem nome e sobrenome, alguém responsável por sua criação, pela sua invenção. Agora, preconceitos ou elogios à parte, vamos pra cozinha trabalhar!

Miojo Thai com Filé, Acelga e Shiitake

Ingredientes (para 1 pessoa)

1 pacote de macarrão instantâneo (+ o sachê de tempero);

2 talos de cebolinha verde, picadinha (a parte branca + um tiquinho da verde);

1 couve chinesa (pak choi), talos e folhas, lavada e cortada em quatro;

3 colheres (sopa) de óleo de óleo vegetal (milho, girassol ou canola);

1 dentinho de alho, picadinho;

2 shiitakes frescos, em tiras e com os talos;

1 colheres (sopa) de pimentão vermelho em cubinhos;

½ cebola pequena, em cubos;

150g de alcatra ou filé mignon, em tirinhas;

2 colheres (sopa) molho de ostra;

2 colheres (sopa) de shoyo;

1 sachê de caldo de legumes em pó;

Pimenta do reino e pimenta vermelha, a gosto.

Faço assim: Coloco o macarrão em uma vasilha de louça e cubro, generosamente, com água fervente; reservo. Em uma wok (ou uma frigideira similar) aqueço bem, em fogo médio, as 3 colheres de óleo e salteio nela por 1 minutos o alho e a cebola; aumento o fogo e junto a carne e salteio por mais 3 minutos, mexendo, insistentemente pra lá e pra cá. Acrescento então a couve chinesa, os shiitakes, o pimentão, a cebolinhas e salteio tudo, vez ou outra, durante 3 ou 4 minutos; agrego o molho de ostras e o shoyu, mexo e remexo. Dissolvo o caldo de legumes e o sachê do Miojo em 2/3 de xícara de chá de água fervente e junto à frigideira; espero levantar fervura, coloco o macarrão que estava reservado, mexo e remexo tudo novamente; dou-lhe algumas lascas de pi menta vermelha, um tico de pimenta do reino e 3 minutos depois já estará pronto para ser levado à mesa.

Você sabia?

Não tem segredos: o macarrão instantâneo cozinha rápido porque já vem pré-cozido; em seu processo de fabricação a massa é cozida e logo depois passa por um rápido processo de fritura e secagem novamente. Este processo de fritura é que deixa a massa do instantâneo mais calórica (uma porção chega a ter 100 calorias à mais que uma porção de macarrão comum). Outro inconveniente é a alta concentração de sódio e o enriquecimento da massa com diversos tipos de vitaminas para tornar o visual do produto mais atraente, o que pode ferir suas características nutricionais. Mas mal não faz desde que não façamos dele nossas refeições diárias; a dica é consumir com moderação e refeições balanceadas como a que fizemos hoje. Então, xô preguiça: o macarrão instantâneo aceita uma infinidade de legumes, verduras, cogumelos, raízes e carnes e isso acrescente apenas alguns minutos à mais em sua elaboração.

Tem mais

A Nissin lançou o primeiro macarrão instantâneo no Brasil em 1965; só em 1970 chegaria aos Estados Unidos, com o nome de Oodles of Noodles, que um ano depois ganharia o nome definitivo de Cup Noodles. Os caldos mais populares do lámen são à base de galinha e de porco e muitas vezes são preparados a partir dos ossos destes animais. Algumas marcas têm como estratégia oferecer sabores regionais; galinha caipira e costela de boi são os carros chefes no sudeste e estão sendo testados alguns com sabores típicos do nordeste; acho que vem por ai lámen sabor carne seca, baião de dois, escondidinho e, quem sabe, um de buchada de bode!

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