ZEZA AMARAL

O bom e velho amor

O homem sempre é o único responsável pelas coisas belas e feias que faz, pelas suas escolhas morais e pessoais

Zeza Amaral
23/04/2017 às 05:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:38

O homem sempre é o único responsável pelas coisas belas e feias que faz, pelas suas escolhas morais e pessoais. Fala-se em talento ou falta dele para explicar essa ou aquela obra, mas, com ou sem talento, há um homem por detrás de um romance, de um poema, segurando uma paleta ou pilotando um carro de corrida. Críticos de artes creditam ao talento do artista sua magnífica obra e não importa se tal artista é um pervertido sexual ou desleal com os amigos. O importante é a obra, não o homem, é o que costumamos ouvir: o artista morre e a obra se eterniza. Há quem compartilhe dessa mesma ideia, sem dúvida. Eu prefiro o artista das obras pequenas, mas leal e ético, bem como o das magníficas obras e igualmente leal e ético. Exemplos não faltam e o raro leitor bem os conhece. E o amor, o talento maior do homem? Será ele o culpado das muitas tragédias passionais que ao longo da história da humanidade vem inspirando escritores, poetas, compositores e escultores, além de cronistas policiais? Fulano morreu de amor, sicrano matou por amor, beltrano se matou por amor impossível; a crônica das tragédias urbanas e suburbanas está repleta dessas histórias. Em Santo André, há muitos anos, Lindemberg Alves, de 22 anos, manteve em cárcere privado a ex-namorada e uma amiga dela por cem horas e o desfecho terminou no assassinato da ex-namorada de 15 anos e três de namoro conturbado. Um psicanalista, dentre os muitos que opinaram à Imprensa, atribuiu ao amor não correspondido a causa da tragédia. Como pode algo tão bom de se sentir ser a causa de uma tragédia, meu raro leitor? Não, não acredito que o assassino fosse capaz de amar a quem quer que seja. E pedófilo; ou não é isso que ele era; um adulto, então com 19 anos, que seduz e começa a namorar uma menina de apenas 12 anos? Mas o bom e velho amor mesmo foi o de um professor recentemente falecido aqui na cidade, aos 88 anos. Quando moço, recém-formado, se apaixonou por uma linda moça e estava prestes a se casar quando ela terminou o noivado e, mais tarde, casou-se com outro pretendente. Ele já tinha comprado e mobiliado a casa onde iam morar e até hoje o simpático chalé está fechado, perdido e esquecido em uma simpática e aconchegante rua do Cambuí. Nunca foi ocupado. Nem alugado ou posto à venda. Meses atrás, o grande amor do agora idoso professor veio a falecer e uma tristeza profunda lhe invadiu a alma e retirou a única razão que encontrara para viver. E veio o ataque cardíaco, generoso e balsâmico. Conheci a casa, o professor e a história do seu primeiro e único amor. Profissional competente, amigo leal e ético cidadão, ele foi a prova mais viva de que vale a pena viver de amor. Que não precisa ser correspondido e muito menos provado. Enfim, pouco estou me lixando se o Lula vai ser preso ou não. Hoje o assunto é outro e espero que o raro leitor entenda que os ladrões da Pátria jamais vencerão os honestos brasileiros que amam e são leais aos seus amores e amigos. E acho que não é preciso dizer mais nada sobre isso. Bom dia.  

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