Voar pela primeira vez, antes de completar dez anos de idade, foi uma das belas experiências de minha meninice. Fiz isso a bordo de um Junker, avião alemão com três motores a hélice: um em cada asa e o terceiro no bico, em frente aos dois pilotos. A rota, entre Marabá e Belém, no Pará, que hoje, nos jatos, é coberta em coisa de 40 minutos, naquela época demorava mais de duas horas. E voando baixo, desviando das nuvens que abrigam turbulências. Bom, de lá para cá tenho voado bastante, e até já perdi a conta de quantas horas fiquei pendurado a 30 ou 40.000 pés de altura. Nessas condições é claro que experimentei várias situações insólitas. Como, já na época de repórter, ter ajudado a amarrar, na poltrona de um Convair (hélices), certo passageiro bêbado, na rota Rio-São Paulo. A experiência mais interessante, porém, talvez tenha sido a que vivi num antiguíssimo Boeing 707 (os de quatro turbinas) da Varig em voo de Londres para o Rio de Janeiro. De repente, o dia amanhecendo, despertei com certo tumulto nas poltronas da frente. Levantei rápido para verificar o que acontecia e tomei baita susto: linda moça, de uns 25 anos, sentia as dores do parto. Felizmente havia um médico entre as 50 pessoas a bordo, numa aeronave que só comportava umas 100. Até eu ajudei, segurando toalhas e um enorme chumaço de algodão que, não sei como, veio parar em minhas mãos. Como trabalhava no jornal O Globo, tratei de fazer anotações para provável matéria. Tinha em mente procurar a parturiente uma semana depois para saber como as coisas iam indo. Isso de fato aconteceu, ela morava em Copacabana e estava ótima. Perguntei então o nome da criança, um menino; Roberto, ela respondeu, afirmando ser homenagem ao comandante do avião. Não sei se o faria hoje, porém, na ocasião, questionei com um “mas por que você, ao invés de homenagear o piloto, não o faz com o médico que te atendeu”? Ela me olhou surpresa e perguntou se eu sabia como se chamava o parteiro improvisado (era cardiologista). Foi assim que a criancinha, que hoje deve estar rondando os 50 anos ou mais, foi batizada como Alberto. Na verdade conto isso tudo para chegar ao aviador da Lufthansa que jogou o Air Bus sobre os Alpes matando, além dele, outras 149 pessoas. Isso para concluir que desde o primeiro Junker no qual voei nos anos 40 até hoje, a aviação teve avanços extraordinários. Para isso, naturalmente, contribuíram técnicos de vários países, mas nunca é demais lembrar que os primeiros jatos foram construídos pela Alemanha ainda durante a II Guerra. Refiro-me ao Heinkel 178, que chegou a passar como um bólido diante dos Spitfires britânicos, os caças mais rápidos da época. Os germânicos, aliás, já aperfeiçoavam técnicas aviatórias desde 1910, e a eficiência da Luftwaffe, muito tempo depois, deu tremendo trabalho para os Aliados; que, mesmo ganhando o conflito, amargaram enormes baixas graças aos aparelhos pilotados pelos louros de olhos azuis que o ex-presidente Lula diz odiar, mas não sai do lado deles... Em outros ramos das atividades humanas, quer na tecnologia quer no pensamento, os alemães têm dado banho. Ainda na semana passada, pegando carona num carro Mercedes Benz que um empresário amigo comprou faz pouco, fiquei de cara caída. A tecnologia de que dispõe o motorista, pelo menos para a minha pobre cabeça, é inatingível. Caso eu estivesse a bordo de uma nave especial igual à que foi à lua, não me espantaria tanto. Do lado das coisas imateriais os alemães, através de Wilhelm Maximilian Wundt (1832-1920), praticamente fundaram a moderna psicologia experimental, aperfeiçoada por outras figuras como Ernest H. Weber e Gustav Theodor Fichner. Hoje você falará muito melhor sobre as reações dos seres humanos relativamente a ver o mundo com melhores cabeças, caso busque conhecimentos expostos por Rudolf Amhein, Elizabeth Beck-Gernshein, Wolfgang Köhler e outros. No entanto, apesar de toda essa gama de conhecimentos, sou obrigado a concluir coisas depois que o copiloto maluco da Luftansa derrubou o jato lotado matando todo mundo. Afinal, a namorada do sujeito sabia que ele era pirado; os médicos psiquiatras que dele tratavam, também; igualmente a companhia aérea; idem vários colegas etc. No entanto, o cara continuava a pilotar. Que me desculpem os germanófilos, mas os conterrâneos da doutora Ângela Merkel ainda estão na idade da pedra no que se refere aos terríveis alcances da loucura humana.