ZEZA AMARAL

O atleta de Saturno

Zeza Amaral
22/04/2013 às 21:33.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:13

Esporte não é cultura. E nem saúde. Atletas em geral, com as honrosas exceções de praxe, costumam chutar e pular o plural e outras inquietudes gramaticais da nossa língua, esta velha senhora que já conheceu afagos da pena de Machado de Assis, Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes. Afinal, todos os atletas querem mais é o louro da vitória, do heroísmo conquistado, do retorno ao lar, ao abraço da sua Penélope, do seu povo. E o que seria dos heróis sem os repórteres esportivos, hein?

Atletas e escritores de hoje gostam de desafios mundanos. Gabriel Chalita e Paulo Coelho, por exemplo, lançam livros aos borbotões, assim como Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo se apresentam em constantes e internacionais campanhas publicitárias.

Drogas invadem as pistas de ciclismo e atletismo. Drogas são usadas por atletas de ponta, muitos ostentando medalhas olímpicas no peito e nas veias. Esporte é saúde é uma frase idiota criada por um proto-marqueteiro do tempo das onças. Nem saúde é esporte e nem verdura sustenta uma complexa rede de músculos e ossos. Falta vontade política para que os homens e mulheres ultrapassem limites físicos apenas com seus valores morais e proteicos. Carboidrato já era. O negócio é anabolizar e achar alguma saída politicamente correta, tipo “estou vivendo o meu tempo”.

E a publicidade precisa de coliseus apresentando atletas acima da média, de homens e mulheres rompendo o limite da própria saúde, atrás de um recorde contra o tempo; de homens dirigindo bólidos a trezentos por hora; de multidões chorando seus heróis mortos; e tudo isso para vender vestuário, bebida e cigarros para bilhões de sossegados torcedores guardados em suas casas ou sentados nas arquibancadas do grande espetáculo da vida.

Já era assim em tempos bíblicos e assim será em qualquer tempo, bem sei; assim como a cartolagem será como sempre foi e será. Assim como a diversão pública sempre foi a grande lavanderia do dinheiro sujo, dos falsos recordes, do falso atleta, da falsa cultura do esporte, e, infelizmente, dos nossos politicamente ignorantes e realmente bons atletas que se deixam levar pela sobrevivência a qualquer custo, jeito e marquetagem.

Ninguém sabe por onde anda a menina Daiane dos Santos. Cadê os irmãos Hipólitos? Cadê Gustavo Kuerten, César Cielo, Joaquim Cruz? O Brasil é a terra da corrupção do futebol, que nunca trouxe um ouro olímpico. E o atleta das argolas Arthur Zanetti, ouro em Londres, indignado com a corrupção olímpica nacional, disse que está pensando em representar outro país na próxima olimpíada que vai acontecer no Rio de Janeiro. Sugiro que ele pense melhor e escolha representar o planeta Saturno.

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