opinião

O aprendizado das eleições

Reinaldo Dias
25/10/2018 às 08:08.
Atualizado em 06/04/2022 às 00:47

É inegável que estas eleições foram as mais interessantes dos últimos anos. Mobilizou intensamente a cidadania brasileira que se posicionou, muitas vezes, radicalmente, a favor ou contra um candidato, não priorizando as propostas e alimentando-se da raiva incontida contra posicionamentos passados dos candidatos ou dos partidos. Pode ser um comportamento condenado em quaisquer outras circunstâncias. No entanto, o mais importante a ser resgatado é que, finalmente, a política passou a fazer parte do cotidiano das pessoas. E é natural que depois de tanto tempo de jejum as paixões aflorassem em cada canto do país. Não estamos acostumados à discussão política. Ela é tão ou mais apaixonante e passional do que uma partida de futebol. Isto porque mexe com a vida das pessoas, sobre o seu presente e o seu futuro. O envolvimento passional, como o foram em grande medida a participação nestas eleições, faz parte do processo de aprendizado das pessoas acerca da tomada de decisões que afetam suas vidas. Com a tecnologia atual e as redes sociais a relação do cidadão com seus candidatos ocorre sem mediação. O contato é direto e na maior parte das vezes instantâneo. Assim, ocorreram movimentos de intenção de votos inesperados que confundiram até os institutos de pesquisa. Futuros candidatos têm muito o que aprender com os fatos ocorridos neste pleito. Mudou o modo de fazer campanha. No lugar dos tradicionais cabos eleitorais de bairros, destacaram-se os influenciadores nas redes sociais. O uso dessas redes deverá se tornar mais regulamentado e a cidadania mais vigilante e menos tolerante com as fake news. Um dado importante a ser considerado é que a polarização surgiu como repúdio ao modo de fazer política do PT, aos escândalos de corrupção associados ao partido e às tentativas de acabar com a Lava Jato. Os votos obtidos por Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, em sua grande maioria, foram de pessoas que não tinham opção e votaram no menos pior, no entendimento de cada um. Isto é relevante porque há um expressivo contingente de eleitores que supera os votos fiéis de Bolsonaro ou de Haddad, que não encontraram uma terceira via para votar e ficaram com a difícil escolha entre duas posições extremadas. Os candidatos que se diziam de centro no espectro político, apresentavam aspecto pouco combativo, tímidos na defesa de suas posições políticas, não demonstrando capacidade de enfrentar os extremismos tanto durante a campanha eleitoral quanto num eventual futuro governo. Nas próximas eleições haverá um grande caminho de oportunidades para candidaturas de centro que se identifiquem com novas práticas políticas, com disposição para combater privilégios e práticas condenáveis no serviço público. As novas tecnologias colocaram para cada eleitor um instrumento tecnológico que lhe permite averiguar a vida de cada candidato, acompanhar seus feitos, informar-se sobre sua honestidade, enfim, obter informação suficiente para posicionar-se. É claro que não desaparecerão de uma hora para outra os dinossauros da política. Estes continuarão a se apresentar com ideias e propostas de séculos passados, apresentando ideologias superadas e já condenadas pela história. Vivemos uma intensa revolução científica tecnológica sem comparação com qualquer evento do passado em suas dimensões e influência na sociedade. As mudanças científicas se projetam no campo político e social com alterações surpreendentes no modo de vida, nas estruturas familiares, nas demandas de cada um e no relacionamento entre indivíduos diferentes do ponto de vista étnico, racial, de gênero ou ideológico. As diferenças tendem a ser superadas. Há um crescimento da participação dos cidadãos em todo o mundo influenciando políticas de Estado com o entendimento de que todos pertencem a uma só humanidade, que juntos constroem o futuro do mundo que não pertence a nenhum grupo em particular, mas que contempla a todos. Vivamos, pois, esta nova experiência em nosso país. Um novo governo, que deve ser recebido com toda cautela. Nossa posição deve ser sempre a defesa intransigente da democracia, que até o momento se mostrou inabalável, resistindo aos ataques desferidos à direita e à esquerda. As instituições têm resistido. O povo apresentou-se com disposição de defender com o voto suas posições. Assim foi e assim continuará sendo. É assim que funciona a democracia.

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