O que mais chamou a atenção na convocação da Seleção Brasileira não foi a presença de Henrique ou de qualquer outro jogador, mas sim a insistência de Luiz Felipe Scolari em convocar a torcida a abraçar o time. Soou até como estratégia de marketing pré-definida por assessores em campanhas políticas.Felipão sabe como ninguém que o apoio das arquibancadas será fundamental para o sucesso no Mundial, assim como foi na Copa das Confederações. Vicente del Bosque, técnico da Espanha, foi o primeiro a reconhecer que sua equipe perdeu aquela decisão já no Hino Nacional, entoado a plenos pulmões por todos no Maracanã.Acontece que aquele apoio não foi natural — tradicionalmente, a torcida brasileira é tímida —, e sim motivado pelas manifestações populares na época, que teve o estopim no aumento das passagens, mas ganhou força e tomou outros rumos. Boa parte da sociedade percebeu que aquele torneio era um desperdício de dinheiro para um país que carecia — e ainda carece — de hospitais e escolas de qualidade. A competição virou motivo pra reclamar do coitadismo do governo em aceitar calado as coisas, inclusive todas as imposições da Fifa, sobrepondo a Constituição.Ir às ruas aflorou na população o sentido de patriotismo para aproveitar qualquer situação ou ocasião para cantar alto o Hino, seja na rua, ou nos estádios. Finalmente, o gigante acordou para pedir ordem e progresso ao País. A Seleção abraçou a causa e ganhou a competição pela honra. Agora, Felipão quer provar do mesmo de novo e, para isso, chama a torcida para si. Se haverá a mesma comoção popular, só saberemos lá.A Copa não tem nada a ver com a política. Ou pelo menos não deveria ter. E essa confusão é um erro comum no Brasil. Cada um tem seus motivos para torcer a favor ou contra o time de Felipão. Mas é uma bobagem achar que uma derrota da Seleção fará o Brasil mudar. As últimas duas participações brasileiras nos Mundiais foram deprimentes, e o governo atual se manteve mesmo assim.Criticar a organização da Copa, a Fifa ou o governo é uma coisa. Todas as falcatruas aconteceram por causa de tantos picaretas do País. E não falo só dos políticos. Muita gente ainda apresenta carteirinha de estudante falsa para ir a um jogo, estaciona em vagas de idosos ou deficientes, pega notinha com valor mais alto no almoço pago pela empresa, só pra citar algumas práticas comuns por aí. Dentro de campo, a história é outra. Futebol não é política. É entretenimento. Portanto, torça para quem quiser pelos motivos certos. E cobre as melhorias nas ruas, nos estádios e, principalmente, nas urnas.