Baú de Histórias

O antigo reduto da elite

Endereço da extinta Gazeta do Povo, a rua César Bierrembach era o point de compras e lazer da elite campineira, no final do século 19

Rogério Verzignasse
04/03/2015 às 14:35.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:00
Baú de Histórias  ( Reprodução)

Baú de Histórias ( Reprodução)

Bem no coração da cidade, a Rua César Bierrembach tem só 235 metros de extensão. Começando na Barão de Jaguara e terminando na Irmã Serafina, é estreitinha, sossegada, bem diferente das vias movimentadas e barulhentas do entorno. A velha Travessa do Góis, pavimentada com pedras no final do século 19, abrigava armazéns e entrepostos de mercadorias importadas, entre elas azeite, bacalhau e louças inglesas. Famílias abastadas faziam compras ali e, durante décadas, o lazer da elite campineira também foi naquelas quadras.     Foto: Reprodução Na esquina com a Irmã Serafina, por exemplo, onde hoje há uma unidade de pronto atendimento da Prefeitura, ficava até 1916 o Coliseu, com touradas, peças teatrais e espetáculos circenses. Até um cinema funcionou no ponto que, mais tarde, seria ocupado pelo Clube Semanal de Cultura Artística. Uma quadra adiante, na esquina com a Coronel Rodovalho (hoje fundos do gigantesco Centro Empresarial Ouro Verde), funcionou a partir de 1924 o Cine São Carlos, reduto do público elegante da cidade. A sala, segundo alguns historiadores, exibiu o primeiro filme sonorizado de Campinas. Um terceiro cinema funcionou na César Bierrembach. O Recreio ficava bem na esquina com a Barão de Jaguara, terreno onde brotaria, em 1935, o primeiro arranha-céu do município, o Edifício Sant’Anna, hoje ocupado pelo Hotel Opala Barão. Enfim, a rua era a meca do lazer campineiro na primeira metade do século passado. Hoje, quem passeia por lá fica admirado com os tesouros que resistem ao tempo. O Edifício Piratininga, tomado por salas comerciais, e a sede do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas Ferroviárias Paulistas, guardam traços arquitetônicos remanescentes do tempo em que a configuração urbanística se transformava radicalmente e Campinas começava a crescer para o alto.     Entre as ruas Dr. Quirino e Luzitana, resiste o prédio assobradado com a fachada pintada em ocre onde funcionaram, até o final da década de 70, a redação, o balcão de anúncios e o parque gráfico do Diário do Povo, jornal que circulou durante cem anos e revelou boa parte dos jornalistas campineiros ainda na ativa. Atualmente, o piso térreo do imóvel é tomado por um estacionamento de veículos. O andar superior, onde ficavam as linotipos e as máquinas de escrever, está vazio, em obras, prestes a ser locado para fins comerciais.   Foto: Reprodução Ah, claro. O progresso tem seu preço amargo. E ele não se limita aos fios elétricos que poluem a paisagem. Na César Bierrembach, há fachadas desfiguradas por pichações, vidros estilhaçados, paredes sem revestimento e pinturas desbotadas. E muitos campineiros nem se dão conta da riqueza do patrimônio histórico.    Por aquelas três quadras, a cultura resiste nas lojas de artigos para dança e nas escolas de capoeira e música. Também há bares, restaurantes, sapataria e uma loja de carimbos. O símbolo maior das atividades comerciais de época talvez seja a Gráfica Capelli, com 53 anos de história. O estabelecimento, que também prestava serviços ao Diário do Povo, foi fundado pelos irmãos Célio, Sérgio e Celso no prédio onde antes funcionou a sorveteria criada pelo pai deles, seo Atílio Capelli.   Foto: Reprodução Hoje, dona Maria Aparecida, esposa de Celso, passeia pela gráfica administrada pelo filho Eduardo. Ela guarda na memória imagens inesquecíveis. Mocinha, veio de Aquidauana (MT) para estudar. Conheceu o marido ali mesmo na sorveteria do Atílio, acostumou-se com a movimentação do Cine São Carlos e com as prosas do Tuturelli, uma daquelas figuras folclóricas das ruas campineiras. Ela lembra dos vizinhos antigos e de casinhas que não existem mais.Homenagem Foto: Reprodução A Rua Dr. César Bierrembach leva este nome desde 1908. A denominação é uma homenagem ao campineiro brilhante, morto no ano anterior, no Rio. Orador e jornalista, aqui ele fundou e foi o primeiro secretário do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas.Saiba Mais Interessados em saber mais detalhes sobre a história da rua podem acessar a página virtual http://www.emdec.com.br/hotsites/nossa_cidade/bierrembach.html. Como a César Bierrembach concentrou cinemas importantes, os curiosos podem colher mais informações no www.campinasdeantigamente.com.br, que tem um link com fotografias históricas das salas.    

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