JOAQUIM MOTTA

O Amor na Rotina Visceral

Joaquim Motta
28/06/2013 às 05:02.
Atualizado em 25/04/2022 às 11:08

A trajetória da maioria dos relacionamentos amorosos com compromisso costuma ser, infelizmente, uma sequência habitual de enlevo decrescente.

No início, a moça experimenta roupas, pede sugestão à mãe, à amiga, capricha na depilação, na maquiagem, procura o melhor visual, imagina a nova lingerie como especial provocação para o namorado.

À noitinha, ele virá buscá-la em casa, também todo bem cuidado, estreando um perfume de proposta afrodisíaca, o carro recém-polido.

Os dois tentam aproveitar ao máximo o jantar intimista iluminado a castiçais e regado a bom vinho, ensaiam propostas eróticas, beijam-se e tocam-se a todo instante, prolongando a noite em um motel sofisticado.

Na data programada com todo esmero e dedicação, casam-se festivamente. A cerimônia e a lua-de-mel são esplendorosas.

Ao retomar as funções profissionais e iniciar a convivência diária, vão sentindo as primeiras demandas da vida em comum.

Alguns anos depois, programam encontrar-se com um casal de amigos para um chope. O bar há pouco inaugurado seria ótima curtição. Ela providencia um traje novo para si e uma camiseta fashion para ele. Alguns minutos antes da hora combinada, o telefone toca: aconteceu um imprevisto com a amiga, ela não poderá mais participar do programa. Eles ficam em casa, vestem camisola, pijama, e assistem a um filme na tevê.

Que mudança! Todo o charme e o encanto de uma noite, tão fáceis de ser vividos e mantidos no tempo do namoro, agora se desfazem em minutos. O casal original não consegue nem mesmo sair de casa sem a companhia de outras pessoas.

É notório que, progressivamente, muitos cônjuges vão se distanciando dos enlevos eróticos, das vivências românticas, incluindo atitudes isoladas, individuais ou agregadas a terceiros: filhos, outros familiares, vizinhos, parceiros sociais. De bons amantes do início da história comum tendem a se comportar como parentes, irmãos, companheiros de república.

A moradia compartilhada implica visceralização. No casal abonado, cada par pode usufruir de sua suíte, mas a grande maioria divide o mesmo banheiro. Usar o toalete comum implica a chance de algum descuido, esquecer-se da descarga, não fechar a porta, clamar por papel higiênico que foi insuficiente...

Dormir juntos nem sempre significa oportunidade sexual e pode implicar alguns lances desagradáveis, tais como ouvir um ronco, cheirar um flato.

Conciliar o sono pode ser automático para aquele que dorme ao encostar-se ao travesseiro, mas pode ser árdua tarefa para o insone.

A gravidez, o aleitamento, a presença de filhos e suas necessidades concorrerão inevitavelmente com as expectativas eróticas dos pares.

Sempre há uma tendência à acomodação. Há aqueles que se entediam menos, mas o problema é bem comum.

Nas crises evolutivas e de saúde, os casais também são postos à prova. Transformar o criado-mudo em prateleira de remédios, fazer da cama um leito hospitalar é missão quase impossível para alguns.

Há os que têm facilidade em conciliar as duas intimidades: amam-se visceralmente sem prejudicar a libido e a ternura. Sexo e menstruação são compatíveis para estes, mas eles formam uma minoria.

A maioria deve combater essa propensão, evitando que o destino visceral predomine e o amor erótico desapareça do casal.

É essencial que os pares continuem se produzindo para si próprios e não apenas quando recebem visitas. O faqueiro refinado que ganharam no casamento é para ser usado em uma refeição para os dois, não há que esperar por hóspedes especiais.

À medida que cada um reserve-se na intimidade visceral e exponha-se na erótica, a relação é revigorada no enlevo romântico e no prazer sexual. O namoro é resgatado em cama, mesa e banho.

A rotina doméstica pode depreciar irrecuperavelmente o vínculo amoroso. Para segurar o amor, o casal não tem alternativa, a não ser a mais óbvia e prosaica: namorar!

Quero lembrar ao leitor das atividades do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). No site www.blove.med.br, clique GEA. Ou procure em http://www.anggulo.com.br/gea/eventos.asp. É bom inscrever-se com antecedência para participar dos eventos que são programados em determinadas segundas-feiras às 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi.

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