Não é fácil ser árvore em Campinas. Foi assim: ilustre e zelosa senhora dos bens de Campinas (dos males, basta os políticos) ligou para minha casa perto das cinco da manhã, indignada: “Estão derrubando o Alecrim!” Moradora do Edifício Catedral, verdadeira sentinela, vigiava tudo, do Largo da Matriz até a Estação da Paulista. Daqui de Ribeirão, acordei o fotógrafo Alexandre Batibugli, que usava a sacola de suas máquinas e rolos de filmes como travesseiro.Ele flagrou tudo: homens da Prefeitura, aproveitando a escuridão, matavam a penúltima testemunha viva do nascimento desta nossa cidade, e jogavam na carroceria de um caminhão. Logo depois, a mesma Prefeitura deixava morrer, na frente do Palácio dos Jequitibás, a última testemunha, justo o... Jequitibá Rosa, o “Seo Rosa”, afilhado do repórter Zé Hamilton Ribeiro.Contrariando Lênin, em Campinas a história não se repete como farsa. Quase 20 anos depois, foi a vez de a repórter Luciana Félix receber um ligação — do senhor Eugênio Valdemarin, de 93 anos, e de sua enfermeira, Neusa, ilustres frequentadores de nossas praças. O que parecia ser um facho gigante de imensas labaredas atrás da Catedral era a florada de uma árvore nova no lugar, entre o templo e o que foi nosso, também assassinado, Teatro Municipal Carlos Gomes.Eugênio e Neusa fotografam todas as árvores que os encantam pela cidade e convidaram a Luciana e seu chefe Busch pra ver a beleza recém-nascida e pouco conhecida: chama-australiana ou árvore-do-fogo "Brachychiton acerifolius"). Nome e sobrenome descobertos pelo cientista Ivan Alvarez, da Embrapa: “É exótica, de clima quente, por isso se desenvolve bem em Campinas.”A árvore-do-fogo virou festa para os campineiros. Finalmente, uma forasteira vem para esparramar alegria e despertar admiração. Houve até quem pensasse em decoração natalina, como dona Teresinha da Silva Costa. Ela sugere: “Deveriam plantar mais mudas deste tipo para deixar a cidade mais alegre.” Infelizmente, dona Teresinha, árvores não votam...Alguém pode perguntar: “Por que ela não nasceu na frente da igreja, para vingar o Alecrim abatido?” Mistééério! Ninguém sabe quem plantou (alguém plantou?) nem como chegou. Certo é que, por via das dúvidas, também é uma árvore sábia. Preferiu a outra praça para fugir e se esconder daqueles que diziam abertamente “odiar” o Alecrim e que a bela árvore da nossa história “atrapalhava” os turistas que queriam fotografar a Catedral. Nunca é tarde: Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, será celebrada dia 8 de dezembro. Seo Jonas, o senhor tem coragem de aproveitar a data e plantar um Alecrim de Campinas no mesmo lugar daquele que a Prefeitura matou a mando de não sei quem? Um dia a igreja nasceu à sombra da árvore, é hora do Alecrim nascer à sombra do templo. Pregado no poste: “Toda árvore vale mais do que os homens que a derrubam”.