ANTONIO CONTENTE

Nosso idioma, inculto e belo

Antonio Contente
06/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:39

ig-antonio-contente (AAN)

Desde 2003, quando o PT assumiu a cúpula desta estranha República, trava-se violento embate nas entranhas do poder. Combate esse que não coloca os poderosos de plantão em pé de guerra contra desmandos, safadezas, roubos, obras superfaturadas e bandalheiras amplas, como seria lícito esperar. A grande briga num primeiro momento comandada pelo ex-presidente Lula e hoje pela sua auxiliar no Planalto, é a que coloca os mandatários máximos do país em constantes disparos de canhão contra a língua portuguesa. Está claro que não há no mundo papel suficiente para elencar as porretadas com as quais o ex-metalúrgico acutila o nosso idioma. E depois de 8 anos, quando ele assumiu o posto atual de primeiro-ministro, a doutora Dilma, rainha que não manda, continua a espezinhar o vernáculo torturando-o no pau-de-arara.

Olavo Bilac (1865-1918), o esplêndido poeta parnasiano que todos admiram, mas os membros da cúpula governamental desconhecem, é autor, entre muitos, de um belo soneto chamado “Língua Portuguesa”. Nos dois primeiros versos da quadra inicial o bardo canta: “Última flor do Lácio, inculta e bela/ És, a um tempo, esplendor e sepultura”. Efetivamente como o vate era vate e não adivinho do que poderia ocorrer no futuro, atirou no que viu e acertou no que não viu: afinal, nestes tristes tempos, em nenhum momento, nos últimos mais de 10 anos, nem Lula nem doutora Dilma lustraram o viés de esplendor do falar e escrever; porém têm caprichado, ao longo de tantos anos, em cavar, cada vez mais, a tumba...

Contam que, não faz muito, chegou, endereçada à auxiliar do Lula que tem o cargo simbólico de chefa da nação, uma carta enviada por atento contribuinte. É que ele, leitor de Bilac, após ouvir entrevista da doutora Dilma, mandou missiva a perguntar: “Por que Vossa Excelência não cultiva a ‘última flor do Lácio’?”. Dizem que imediatamente a santa senhora mobilizou desde o mais simples de seus auxiliares até o próprio ministro da Agricultura e o presidente da Embrapa, para saber onde poderia conseguir sementes para plantar, nos jardins do Alvorada, o florícolo que o missivista sugeria que ela cultivasse. Estava angustiadíssima a julgar que se tratava de planta em extinção, dado que o autor da carta usava a palavra “última”...

É lógico e natural que as falas oficiais, formais, tanto do “ex” como da sua auxiliar sempre acometida de mau humor, são escritas por assessores que sabem colocar pronomes e não entronizam vírgulas em lugares errados. Essas pessoas que redigem tais textos receberam o apodo de “ghost writers”, ou seja, “escritores fantasmas”; que traçam por linhas certas o que os poderosos, de moto próprio, o fariam por linhas tortas.

Durante seu mandato de eleito e o que ora ocupa de cara-de-pau, todas as vezes que Lula falou por conta própria pronunciou barbaridades. O “menas” que cansou de repetir, aliás, era o de menos. Até porque, no seu rol de idiotices, chegou, inclusive, a revolucionar nossa posição no universo ao afirmar, diante das câmeras, que o aquecimento global só estaria acontecendo porque a terra é redonda e não quadrada. Mas, afinal, após narrar tudo isso, chego à maior de todas as surpresas envolvendo o ex-presidente que permanece no cargo: mesmo não sabendo utilizar a “última flor do Lácio” nem para ler nem para redigir, publicará seus pensamentos e sacadas em inglês, através de artigo mensal no “New York Times”; sem usar “ghost writer”. Aí está, o mistério do século foi finalmente desvendado: Lula sempre soube não só falar português melhor do que o FHC, como é mestre na língua de Shakespeare. Esses anos todos escondeu o jogo, artista que é, a falar errado pro povão a fim de parecer um deles. Daí a farta popularidade que ostenta. Nas horas de recolhimento, em passado recente talvez ao lado da sra. Rosemary, a reencarnação de Madame Pompadour nos trópicos, muitas vezes matou insônias a devorar “Ulysses”, de Jayme Joyce, no original; idem Oscar Wilde, George Orwell, Jane Austen, Goldsmith, Fielding etc. Optando, inclusive, por saborear Marcel Proust não em francês, sim na tradução inglesa. Bom, quanto à doutora Dilma, houve quem afirmasse que ela até poderia não saber falar português, mas dominaria com perfeição o búlgaro. Lamentavelmente, porém, quem leu Campos de Carvalho (“O Púcaro Búlgaro”) sabe: a Bulgária, simplesmente, não existe...

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