ZEZA AMARAL

Nós somos inúteis

26/05/2013 às 08:53.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:36
Colunista Zeza Amaral (Cedoc/RAC)

Colunista Zeza Amaral (Cedoc/RAC)

Já disse aqui, e repito agora, que a única classe social do Brasil que não conta com ninguém para protegê-la é a classe média, essa casta de párias que levanta cedo para ir trabalhar, estudar, trabalhar e estudar, e que leva cerca de cinco meses e alguns dias apenas para pagar seus impostos.Digo isso novamente pois acabo de saber que a Câmara dos Deputados aprovou a criação de uma cota em licitações públicas para a contratação de dependentes químicos “em processo de recuperação”. Já temos a cota racial que privilegia pretos e índios; temos leis que protegem especificamente os homossexuais — e o mercado financeiro internacional até já conta com uma empresa, a LGBT Capital, para atender empreendedores gays — e agora os maconheiros arrependidos passam a contar com uma vantagem a mais em concursos públicos.Vou virar maconheiro e me internar em alguma clínica. Ou vou apelar para a minha ancestralidade indígena e africana para reclamar um pedaço de Atibaia, minha terra natal, que, além de abrigar alguns aymorés que andavam pela mata atlântica também foi povoada por nobres escravos africanos, retirados lá da África central, Benin. Seus enormes tambores batem até hoje na minha cabeça — sem contar os tambús — e quem quiser ainda ver o que eles fazem basta ir vê-los nas Folias de Reis que ainda resiste, bravamente, em Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Piracaia e Joanópolis.Trabalhador que chega na hora certa, que produz segundo a meta da empresa, não ganha nada além do combinado no contrato de trabalho. Se aparecer um bom concurso público na sua área ele vai sofrer a concorrência de um maconheiro arrependido; ou de algum afrodescendente caso resolva prestar um vestibular para alguma universidade estatal ou para pegar um empréstimo federal para cursar uma faculdade particular. Trabalhador branco, da classe média e católico ninguém defende. A professora de Filosofia Marilena Chauí disse dias atrás que detesta a classe média. Pois é: ela é professora na USP e seu salário é pago pela classe média. Tudo bem que ela é petista e pensa e publica argumentos para defender corruptos petistas da sua curriola, Dirceu, Genoíno, Delúbio e João Paulo Cunha, todos já condenados pelo STF. Mas é uma afronta uma funcionária pública declarar que “odeio a classe média”. E afronta maior é a grande imprensa ignorar o fato e deixar a vida rolar.Você que tem um bom emprego porque ralou os fundilhos estudando noite adentro para adquirir conhecimento, pois é: você é um estorvo, um aproveitador social, e que bem merece passar a vida pagando o salário dessa tal Marilena Chauí, que só deve produzir pensamentos e nem isso consegue, a não ser achincalhar os honestos trabalhadores que pagam o seu salário, a sua manicure, seu cabeleireiro, a sua gasolina e a conta da sua boutique.De hoje em diante sou preto, gay e maconheiro em recuperação. Mas antes devo pertencer a um desses movimentos sociais que o PT financia para servi-lo como massa de manobra. Caso contrário, se eu morrer atropelado em cima de uma calçada vou virar um presunto sem identidade, um cara que morreu atrapalhando o trânsito. Pensando melhor, acho que vou mesmo continuar atrapalhando o tráfego petista. Além de divertido, é necessário.Bom dia.

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