Baú de Histórias

Nos bons tempos do 'iê-iê-iê'

Quem se lembra do programa de auditório 'Campinas se diverte', da década de 60? Aos 90 anos, Alcino Silva, apresentador do espetáculo na época, conta as histórias engraçadas dos palcos

Rogério Verzignasse
01/04/2015 às 16:37.
Atualizado em 23/04/2022 às 17:43
Baú de Histórias  ( Reprodução)

Baú de Histórias ( Reprodução)

Lá na década de 60, a turma da Jovem Guarda fazia o maior sucesso. Roberto, Erasmo, Wanderleia, Martinha, Ronnie Von, Renato e seus Blue Caps... Mas, muito melhor do que ouvir “iê-iê-iê” no rádio, era ver os ídolos de pertinho. E, por aqui, o palco das feras era o Cine Casablanca, onde hoje funciona o Teatro Castro Mendes. Quem produzia os espetáculos era Alcindo Silva, cidadão que tinha sido contratado para vender propaganda para a Rádio Educadora. Como o rapaz era bom de lábia e tinha muitos clientes, acabou convidado para apresentar o programa no cinema, que era transmitido ao vivo pela emissora.   Foto: Reprodução Aos 90 anos, Alcindo Silva diverte-se com as histórias do passado: programa de auditório recebia astros da jovem guarda   O Campinas se Diverte virou febre entre a galera. As mocinhas se amontoavam no gargarejo e gritavam sem parar. Nas cadeiras tinha muita criança, dona de casa, velhinhos. Era o programa de lazer obrigatório para campineiros de várias gerações. Ah, no palco também tinha um show de calouros, o Para-Para. Quando o candidato a artista desafinava, entrava uma figuraça em cena mandando o sujeito parar com a cantoria. Como o público crescia demais, Alcindo levou as apresentações para o Cine Carlos Gomes, na Avenida Campos Sales. E, como nem só de roqueiros barulhentos vivia a bilheteria, começaram a chegar cantores mais comportadinhos, como Isaurinha Garcia e Edith Viega, que arrebatavam multidões com seus sucessos românticos. Metido com os famosos, o apresentador até se aventurou como cantor. Fechou contrato com uma gravadora de São Paulo e gravou um compacto. Noite Sem Fim, balada romântica, até tocou bem nas rádios do Interior, mas Alcinho não gostou nem um pouco da experiência. Ele conta que mostrava o vinil de emissora em emissora pedindo divulgação e passou a ouvir propostas indecorosas. Radialistas safados pediam dinheiro para tocar o compacto em seus programas.   Foto: Reprodução Roberto Carlos dá autógrafos em show no Cine Carlos Gomes Comportamento de gente medíocre, claro. Alcindo então optou por não gravar mais. Deixou de promover shows em cinemas. O dinheiro que entrava no caixa, fala, provocava muitas brigas. Todo mundo queria sua mordidinha na arrecadação. Aquilo cansou. No começo dos anos 70, Alcindo decidiu investir em um negócio próprio e se livrar de atravessadores e espertalhões. Abriu uma gafieira em prédio alugado sobre uma loja de calçados, na esquina da Campos Salles com a Ernesto Khulmann. Lá, sim, ele ganhou um troco legal. O Clube Rio Branco lotava. Durou cinco anos e só fechou as portas porque a vizinhança começou a reclamar do barulhão de varava a noite. Resultado: o homem voltou a vender publicidade para sobreviver com dignidade. Bela história de vida para quem, afinal de contas, há muito tinha abandonado a escola. Alcindo é um dos oito filhos do seo José Ferreira da Silva e da dona Deolinda. O casal veio de Franca, comprou um sítio em Jaguariúna. Foi lá que Alcindo nasceu, mas ainda era garotinho quando a família se mudou para a Rua José de Alencar. Em Campinas, em uma casa que tinha uma jabuticabeira enorme no quintal, o casal criou a prole. A única coisa chata, diz, é que todos os irmãos já se foram deste mundo. Hoje, com 90 anos de idade, Alcindo mora com a esposa Madalena num apartamento ajeitadinho no terceiro andar de um prédio ali na Rua Dr. Quirino. O casal teve uma filha, Eliane, que se casou e lhes deu dois netos. Até um bisnetinho já nasceu. E o cidadão, apesar dos cabelos brancos e dos passinhos cuidadosos, está muito bem de sáude. Lúcido, adora se sentar no sofá e lembrar dos tempos inesquecíveis do programa ao vivo.   Foto: Reprodução O apresentador ao lado de Vanderlei Cardoso Diverte-se falando do irônico mundo da fama. “Quem era cantor top, como Roberto Carlos e Ronnie Von, impressionava pela humildade, pelo trato com os fãs. Mas tinha artista começando, hoje desconhecido, que era de uma petulância enorme”, fala. E Alcindo é cheio de cuidados ao falar dos tempos de moço (no palco dos cinemas e no clube de gafeira). “Boemia, mulherada, madrugada... Ih, melhor deixar essa parte pra lá”, gargalha.    SAIBA MAIS Quem tem interesse em passar horas conversando com Alcindo Silva, ouvindo histórias divertidas sobre a Campinas do passado, pode marcar uma visita pelo e-mail do genro dele, [email protected]. Contatos por telefone podem ser feitos pelo (19) 3236-7712.  

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por