Carismático como ele só, Dom João Nery era “o cara” da Campinas dos velhos tempos. Até hoje, é comum encontrar farmácias, instituições de ensino, ruas, bairro e até mercado com seu nome.
No ano em que a cidade celebra os 150 anos de seu nascimento (6 de outubro de 1863), é com admiração que parentes folheiam o livro publicado pela Cúria Metropolitana após a sua morte, em 1920, com dados preciosos de sua biografia.
É na casa de Maria Emília Dalprat Nery, sobrinha-neta do primeiro bispo de Campinas, que busco mais informações sobre o religioso. Logo em seguida, chega Lygia Nery, outra sobrinha-neta dele. Em frente à Catedral Metropolitana, há uma estátua de Dom Nery, “cumprimentada” por Lygia quando passa por lá: “Oi, tio!”, “Tchau, tio!”.
Carinho com os pobres
Filho de Benedicto Corrêa de Moraes e Maria do Carmo Nery, João Batista foi coroinha do padre Joaquim José Vieira na Igreja da Santa Casa de Misericórdia. O pai era sapateiro e o menino levou uma vida simples, talvez por isso olhasse com tanto carinho para os pobres. Na casa da família, era comum preparar alimentos em grande quantidade, já que na porta sempre havia alguém a pedir um prato de comida.
Nos tempos em que Campinas foi dizimada pela febre amarela (1889), Dom Nery abriu a Casa Episcopal para atender as vítimas da epidemia. Ele mesmo enfrentou a doença e quase morreu, mas o médico Angelo Simões conseguiu salvá-lo. Foi sagrado bispo em 1896 e seu nome sempre esteve ligado à educação.
Graças a Dom Nery e a Maria Umbelina Alves Couto, uma dedicada senhora da sociedade campineira, foi fundado o Liceu de Artes e Ofício, atual Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas. O local nasceu para abrigar órfãos das famílias vitimadas pela febre amarela.
Dom Nery morreu aos 56 anos, de câncer no fígado. A cidade parou para assistir ao funeral do bispo e o corpo foi enterrado na cripta da Catedral Metropolitana.
Educação como prioridade
Dom Nery também atuou em Vitória (ES) e na Diocese de Pouso Alegre (MG). Em Campinas, criou O Mensageiro, semanário católico que antecedeu A Tribuna. Ajudou a fundar colégios, entre eles o Ginásio Diocesano, que surgiu com o Seminário Santa Maria. Sob seus auspícios foi construído um teatro católico, anexo ao Externato São João, uma escola salesiana. Seus sermões eram considerados sublimes.
A educação para o trabalho foi a forma encontrada pelo bispo para ajudar as pessoas. Por isso, dentro de suas possibilidades, procurou fundar nas dioceses um estabelecimento de ensino profissionalizante que inserisse os jovens no mundo do trabalho.
Veia artística
Na juventude, Correia Nery, como passou a assinar seu nome, fundou um grupo dramático e começou a encenar peças, entre elas Pai e Filho, a primeira escrita por ele, em parceria com Joaquim Gomes Pinto. A estreia foi em 14 de agosto de 1880, no Teatro São Carlos.
Em 2013, a cidade comemora os 150 anos de nascimento de Dom Nery
O bispo transformou a Casa Episcopal em hospital para atender às vítimas da epidemia de febre amarela em 1889.