Coluna publicada na edição de 4/10/18 do Correio Popular
O Grande Prêmio da Rússia terminou com uma decisão polêmica da Mercedes. Uma decisão que deixou seus dois pilotos, Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, constrangidos. Uma decisão que foi ironizada por Sebastian Vettel, da Ferrari, na sala em que os três primeiros colocados ficam antes da cerimônia de premiação. Uma decisão que arranhou a imagem da Fórmula 1, categoria que, sob nova direção, tenta conquistar novos fãs pelo mundo afora. E fica difícil mesmo conquistar o público se ao final da prova o piloto vencedor, ao invés de comemorar, procura o segundo colocado para pedir desculpas. Se dá entrevista falando que não gosta de vencer assim. E se, no pódio, tenta trocar seu troféu com o do segundo colocado. Ninguém gosta de ver uma corrida assim. Mas acredito que, se o regulamento permite que uma equipe determine a troca de posição de seus pilotos, então não devemos criticar quem usa esse artifício. O problema, se é que existe, está no regulamento e não na Mercedes. O time alemão agiu com frieza. Deu uma ordem para aumentar as chances de que seu piloto seja campeão, sem se importar com a opinião de Bottas e do público. A colega Julianne Cerasoli conversou com Hamilton logo após a prova. E contou que o inglês ficou dividido, entendendo a importância dos pontos na briga pelo título, mas sentindo que aquele tipo de vitória não era correto. Mas, no fim da entrevista, o líder do Mundial disse a Julianne que decidiu manter sua posição na frente de Bottas porque “ninguém lembra dos certos e errados da temporada, mas sim de quem ganhou.” E citou Michael Schumacher como exemplo. Essa é a questão. Se o regulamento permite e se a troca de posições aumenta as chances de que um piloto da equipe seja campeão, por que a Mercedes deveria agir de forma diferente? No Brasil, a totalmente desnecessária troca de posições entre Schumacher e Rubens Barrichello no GP da Áustria de 2002 ainda é muito lembrada, mas para o mundo da F1 se trata apenas de uma curiosidade na brilhante carreira do heptacampeão. Ninguém lembra dos certos e errados, mas sim de quem ganhou. A conclusão de Hamilton é tão incômoda como a troca de posição entre os dois pilotos. Tão incômoda como uma vitória sem comemoração ou como uma envergonhada tentativa de troca de troféus. Jornalistas, torcedores, pilotos e fãs insatisfeitos devem criticar o regulamento. A Mercedes só fez o que achou que deveria fazer para escrever mais uma vez o nome de Hamilton na lista de campeões da Fórmula 1.