JOGO RÁPIDO

Nelsinho descobriu que nada mudou

Coluna publicada na edição de 26/4/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
25/04/2018 às 18:50.
Atualizado em 28/04/2022 às 06:51

Nelsinho Baptista foi trabalhar no futebol japonês em 2009. O Kashiwa Reysol não foi sua primeira experiência como treinador no exterior, longe disso. Ele já esteve à frente de outros clubes japoneses, trabalhou no Mundo Árabe, na Colômbia e no Chile. Todas essas experiências fora do Brasil foram curtas. A última foi maior. Nelsinho ficou cinco anos do Kashiwa e então assumiu o Vissel Kobe, em 2015. Foram mais três temporadas no Japão. Em dezembro, de volta o Brasil, Nelsinho assinou com o Sport, clube pelo qual conquistou a Copa do Brasil em 2008. A história no clube e a crise financeira (o Sport perdeu peças importantes do elenco de 2017 e enfrenta dificuldades) não serviram de atenuante. Em virtude de maus resultados em competições de menor importância no início de temporada e de não ter vencido nenhum jogo nas duas — isso mesmo, duas — primeiras rodadas do Brasileirão, Nelsinho deixou de ser “prestigiado” pela diretoria. O treinador ouviu um áudio no qual dirigentes afirmaram que ele seria demitido em caso de derrota para o Botafogo (o jogo terminou 1 a 1). Inconformado, convocou uma coletiva e anunciou sua demissão. Depois de trabalhar em apenas dois times durante nove anos de futebol japonês, Nelsinho durou 17 partidas em um clube no qual é ídolo. Nem tenho a pretensão de que o futebol brasileiro alcance o nível de excelência administrativa da J-League ou da MLS, por exemplo. Norte-americanos e japoneses estão muito à nossa frente no que se refere a capacidade de organização, credibilidade, eficiência e honestidade. É assim em quase todas as áreas. Por que não seria no futebol? Mas será que nosso futebol não vai conseguir dar ao menos alguns pequenos passos à frente? Será que é tão difícil assim ter um relacionamento profissional com treinadores e atletas? Não estou contestando o direito do Sport de trocar de treinador em caso de insatisfação com o trabalho. O próprio Nelsinho afirmou que nem foi isso que o mais deixou irritado e sim algumas acusações falsas no final do tal áudio. “Estou fora do Sport. Não consigo trabalhar com pessoas que enganam todo mundo”, desabafou Nelsinho. Esse é o ponto. Será que não dá para fazer futebol sem enganar? Sem sonegar informações de transações, balanços e contratos? Será que precisa ser tudo tão diferente do Japão? Será que somos incapazes de evoluir? Depois de 15 anos de Japão, Nelsinho precisou de apenas 17 jogos para descobrir que pouca coisa mudou por aqui.

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