Há três anos, um levantamento da Universidade Estadual de Oklahoma (EUA) mostrou dados que seguem atuais: homens que têm compromisso afetivo são atraentes às mulheres sozinhas que buscam uma relação estável. Trata-se de algo curioso e contraditório, pois elas deveriam mais se interessar por homens que também estivessem livres. Porém, essa atração pode seguir uma perspectiva bem racional: se eles estão em relações comprometidas, é porque têm perfil para os compromissos, enquanto os que estão livres poderiam não formar vínculos firmes. Uma aliança no dedo pode mesmo significar uma confirmação, um atrativo de convicção a mais, sugerindo que aquele homem não é só casado com uma mulher mas também ratifica sua índole de se estabilizar numa relação amorosa. Neste mês dedicado às mulheres, vejamos outras dificuldades no contexto sociocultural que dificultam as que anseiam por um relacionamento compromissado. Os índices do “mercado”, por exemplo, são desanimadores: há mais mulheres do que homens, eles morrem mais cedo e tendem a manter relações paralelas às do compromisso. A maioria dos homens, mesmo que se esforce para manter as aparências e uma postura politicamente correta, faz um discurso de comprometido fiel mas exerce conduta infiel. Eric Anderson (EUA) publicou, no início desta década, um livro que demonstra essa avaliação, chegando a apontar que 78% dos homens traem as companheiras, mesmo com a intenção de ser fiéis. O debate histórico sobre as diferenças entre a personalidade masculina e a feminina segue aberto. Muitos insistem que os dois sexos são semelhantes, que o amor independe do gênero, e outros batem na tecla da diferença, que o homem não ama como a mulher. E a dialética se torna ainda mais complexa à medida que tentamos definir se essas características são predominantemente culturais ou naturais. Na França, Maryse Vaillant chega a afirmar – para muitos com exagero insuportável - que a infidelidade é típica do perfil masculino. E que um homem fiel teria uma verdadeira “falha de caráter”. Entretanto, o valor moral predominante ainda é o de que devemos ser fiéis e monogâmicos. É claro que temos várias inovações, namoros e casamentos abertos, experiências de swing, mas a expectativa que atende às demandas narcísicas e do amor próprio é a de se guardar fidelidade. Aceitar uma traição ou de se relacionar com um traidor exige muito da pessoa comum, questionando profundamente o seu ego. Somos animais erotizados sem interrupções cíclicas como ocorre com os considerados inferiores. Temos o prazer exponencial do orgasmo, não temos a dependência do cio. Podemos escolher entre o sexo reprodutivo e o prazeroso. E também podemos decidir entre o padrão “feminino”, que exige vínculo sentimental para a prática sexual, e o “masculino”, o sexo sem compromisso. A pulsão (ou impulso) sexual pode ser controlada pela inteligência, balanceando censura, conveniência e os apelos sentimentais pertinentes. A nossa tradição romântica muitas vezes polariza razão e emoção, indicando que a pessoa emocionalmente envolvida pode perder-se racionalmente. Desde os trabalhos iniciais de Sigmund Freud, a psicanálise procura distinguir instinto de impulso e destacar a participação do ego, a avaliação mental dessas emoções. Um reflexo simples, como o da patela (estimulado por um toque no joelho) é reação periférica, direta e impensada, que se dá ao no nível da medula do Sistema Nervoso, sem envolvimento do cérebro e/ou da mente. O instinto corresponde a uma reação mais complexa, com alguma participação cerebral e mental, estereotipada e constante. Por exemplo, a sede – o animal vai à busca de água. O impulso é de maior complexidade no cérebro e na mente, modulado pela experiência e reflexão, o ego escolhendo e decidindo o caminho. À medida que a inteligência assume a decisão, recaímos na dialética dos gêneros: homem mais racional e mulher mais emocional. Na tradição cultural, ainda resta a referência de que o homem faz sexo como “animal”. Por seu lado, a sagacidade dos animais sempre nos dá lições existenciais: “o que prende o boi não é a cerca, é o pasto”... O sexo casual dos pares que não se amam ou que se amam muito pouco não pode ser imaginado como uma vivência animalesca. Não amar não impede os pares adultos de se protegerem com o preservativo, nem de assumirem uma atitude responsável, racional e coerente para intercambiar prazer erótico consensual. Amar muito pouco equivaleria a trocarem mais precauções: não se iludirem, não sugerindo a possibilidade de vínculo ou compromisso, usando simbolicamente uma “camisinha” para o coração. A mulher que finge aceitar sexo casual vai maltratar intensamente seu amor próprio e abrir ferida narcísica talvez incurável. E ainda pior será o destino daquela que arriscar um namoro com um homem comprometido...