JOGO RÁPIDO

Nadal e Pato: em 5 anos, nada mudou

Coluna publicada na edição de 9/6/19 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
09/06/2019 às 01:00.
Atualizado em 30/03/2022 às 21:03

Reproduzo hoje uma coluna que escrevi em fevereiro de 2014. Cinco anos depois, o cenário que vi na época para as carreiras de Rafael Nadal e Alexandre Pato não se alterou. Enquanto o espanhol joga hoje para se transformar no primeiro tenista da história a ter 12 troféus do mesmo torneio do Grand Slam, Pato segue com seu ar de desinteresse pelo futebol com a camisa do São Paulo. Com um recorde absurdo de 92 vitórias e duas derrotas em Roland Garros, Nadal segue, aos 33 anos, jogando como um touro, com enorme apetite por vitórias, títulos e recordes. Pato, com apenas 29, segue jogando como Pato. A seguir, a coluna de 2014, que teve como título “O antinadal”: Alexandre Pato é um jogador que tem boa qualidade técnica. Pode não ser um craque, mas é um jogador de nível técnico muito bom. Em 2013, ganhou dois títulos, fez 17 gols e foi o vice-artilheiro do Corinthians. Ainda assim, sua transferência para um rival foi o acontecimento mais comemorado pela torcida do clube neste início de ano. E no dia em que sua contratação foi anunciada, a torcida do São Paulo ensaiou alguns protestos na arquibancada. Pato tem qualidade, mas foi desprezado pela torcida do ex-time e recebido com desconfiança em sua nova casa. Por que isso acontece? No meu modo de ver, o que gera essa enorme decepção entre os torcedores é o comportamento desinteressado do atacante. Tenho a impressão, e não devo ser o único, de que para Alexandre Pato tanto faz ganhar ou perder, ser titular ou reserva, ser aplaudido ou vaiado, ser campeão ou ser rebaixado... Ele joga com indiferença, responde com indiferença, se movimenta em campo com indiferença. E a torcida, evidentemente, não suporta disso. Pato ganhou muito dinheiro em pouco tempo. Com apenas 24 anos, já acumulou fortuna. Seu salário no Corinthians era de R$ 26,6 mil por dia e ele continuará recebendo esse valor no Morumbi. Sua fase é tão ruim que o Corinthians se dispôs a pagar metade desse dinheirão para que ele vista a camisa de um rival. Mas Pato não parece se importar com isso. Com tanto dinheiro, o futebol deixou de ser uma prioridade. Isso é bastante comum no futebol, um esporte coletivo de extrema visibilidade que costuma transformar em ídolos jovens garotos com potencial. Em outros esportes, como no tênis, é diferente. Vejam o caso de Rafael Nadal. Só em prêmios da ATP, já ganhou US$ 66 milhões, fora os contratos de publicidade. Tem 27 anos e poderia muito bem curtir a fortuna e adotar o modo Pato de competir. Mas para o milionário Nadal, há uma diferença enorme entre ganhar e perder. No Aberto da Austrália, ele jogou com uma bolha gigante na palma da mão esquerda e chegou até a final. Ele detesta perder e luta em quadra até a última bola. É idolatrado e criticado por isso. Muitos o admiram, muitos acham que ele não sabe perder. Mas na parte que nos interessa, ele é o antipato, o antiganso, o antijogador rico e acomodado, como tantos que conhecemos no futebol. O tênis também tem seus acomodados. Mas esses sequer conhecemos porque, em um esporte individual, o acomodado some. No futebol, mesmo na reserva e irritando a torcida, Pato segue recebendo R$ 800 mil por mês, segue aparecendo nas capas dos jornais. A fama de “craque” e o potencial que não utiliza garantem sua fortuna. Pato tem todo o direito de continuar competindo no modo Pato. O futebol lamenta, mas essa é opção dele, um direito dele. Os clubes é que precisam aprender que só grandes estrelas merecem salários de grandes estrelas. Precisam aprender que só os jogadores extremamente talentosos que odeiam perder merecem uma fortuna por mês. Enquanto não aprenderem isso, continuarão jogando dinheiro fora com atletas de perfil antinadal.

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