PROPOSTA

Na Câmara, teólogos falam contra ideologia de gênero

Representante da Comunidade Católica Pantokrator e membro da Comissão de Bioética e Defesa da Vida da Arquidiocese de Campinas defenderam que ideologia vai "contra a natureza humana"

Inaê Miranda
30/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:04
Vereadores adotaram um tom um pouco menos ofensivo do que na quarta-feira para defender suas opiniões anti-ideologia de gênero ( César Rodrigues/ AAN)

Vereadores adotaram um tom um pouco menos ofensivo do que na quarta-feira para defender suas opiniões anti-ideologia de gênero ( César Rodrigues/ AAN)

Após sessão polêmica, marcada por confusão na Câmara de Campinas, na última quarta-feira, a Comissão Especial de Estudos sobre ideologia de gênero ouviu na sexta-feira (29) à tarde dois teólogos favoráveis à proposta que impede a inclusão no Plano Municipal de Educação de qualquer discussão sobre o assunto nas escolas — na prática, veta que o tema ligado à opção sexual seja abordado nas escolas municipais. Dois dias antes, manifestantes contra e a favor da proposta chegaram a se enfrentar em plenário e alguns vereadores chegaram a fazer declarações consideradas homofóbicas.Kátia Maria Bouez Azzi, representando a Comunidade Católica Pantokrator, e André Misiara, membro da Comissão de Bioética e Defesa da Vida da Arquidiocese de Campinas, defenderam que a Ideologia de Gênero vai “contra a natureza humana”. Os vereadores adotaram um tom um pouco menos ofensivo do que na quarta-feira para defender suas opiniões anti-ideologia de gênero.Para a teóloga Kátia, a sexualidade não é algo construído, como a Ideologia de Gênero “quer fazer parecer”. Ela afirma que a ideologia de gênero tem como interesse negar o dado biológico, negar que há diferenças entre homens e mulheres e que há diferenças no DNA. “Pesquisas mostraram que (a diferença) está justamente no DNA e no nível de hormônios”, afirmou. Kátia citou algumas pesquisas científicas da década de 60, além de dados mais recentes para embasar sua tese. Ela disse ainda que o tema em debate é uma ideologia que vem de fora. “Não podemos comprar algo que vai destruir a nossa civilização ocidental, que tem como base a família.”Já Misiara defendeu que a ideologia de gênero impõe algo fora da realidade e da natureza, que não é democrática. “Se analisarmos a parte biológica do ser humano, as diferenças entre homem e mulher estão na parte hormonal. Nós homens temos testosterona e é isso que evolui para a parte masculina. A mulher tem estrogênio. Então, isso já define o que é homem e o que é mulher e não tem como mudar isso. A não ser que façam injeções, o que altera o mecanismo orgânico e vai contra a própria natureza”, afirmou.Os teólogos defenderam ainda que as consequências da ideologia de gênero nas escolas podem ser “nefastas” e “extinguir a raça humana”. Misiara afimou que a ideologia de gênero pode aumentar o índice de violência sexual nas escolas, elevar a quantidade de problemas psicológicos e provocar o caos. “Forçar desde a tenra idade uma identidade, uma orientação, está fora do contexto natural”, afirmou. Ele usou como exemplo “dos riscos da ideologia de gênero” colocar duas pessoas do mesmo sexo numa ilha. “Não tem como lutar contra a natureza. Nós podemos extinguir a raça humana em função disso.”Vereadores presentes também falaram contra a ideologia de gênero, a exceção de Carlão do PT, que não faz parte da comissão mas compareceu à audiência para se posicionar. Segundo ele, o debate sobre gênero nas escolas é importante e pode ajudar a combater a violência e discriminação. Também defendeu que um contraponto na reunião seria necessário, o que não estaria acontecendo. Jorge Shneider (PTB) também foi questionado por um participante sobre a presença apenas de teólogos contrários à ideologia de gênero. “Essa mesa já é ideológica por princípio. O que vocês estão falando a gente vai numa igreja e ouve”, falou um manifestante. A filósofa Leila Dumaresq, que assistiu a reunião, disse que discorda dos teólogos. “Eles falaram de teorias até centenárias e cometeram equívocos. Temos pesquisadores na Unicamp a respeito da ideologia de gêneros e nenhum foi chamado.” Shneider, presidente da CEE, afirmou que depois do que ocorreu na quarta-feira não havia clima para chamar outros especialistas que fizessem o contraponto. “Não queremos acender a discórdia em Campinas. Queremos que haja uma solução de problemas e não trazer mais problemas. Como era a primeira, pensei em ouvir aquilo que pessoas que não venham para fazer arruaça têm para colocar para nós. Depois que acalmar as coisas, aí nós traremos outras pessoas.” Audiência Na próxima segunda-feira, a partir das 15h, haverá uma Audiência Púbica para debater a Proposta de Emenda à Lei Orgânica do Município, de autoria do vereador Campos Filho (DEM). Para protestar contra a proposta do democrata, entidades organizam um "beijaço". No dia 11 de junho, haverá uma reunião para discutirmos novamente o assunto, segundo o vereador Schneider, com ponto e contraponto. A proposta do vereador Campos Filho proíbe medidas que possam incluir na grade curricular ou na rotina dos alunos políticas que tratem de "ideologia de gênero, o termo gênero ou orientação sexual". Ele afirma que é responsabilidade da família, e não da escola, instruir as crianças sobre o assunto. Polêmico, o tema causou um intenso debate na sessão da última quarta-feira, quando grupos favoráveis e contrários se enfrentaram na Casa. Alguns vereadores chegaram a fazer declarações consideradas homofóbicas. 

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