Crônica e muitas vezes silenciosa, a endometriose atinge cerca de seis milhões de brasileiras e requer tratamento contínuo até a chegada da menopausa
Página Dupla ( Divulgação)
Não basta ser mulher, tem que cuidar. Não só das inúmeras tarefas e compromissos do dia a dia, mas principalmente do corpo. Aqui não estamos falando de estética. O assunto é saúde. E não tem como falar em saúde feminina sem abordar o sistema reprodutor e os problemas que envolvem os órgãos que o compõem. É o caso da endometriose, que afeta o útero e é cada vez mais recorrente. De acordo com o ginecologista e obstetra José Bento, convidado frequente do programa Bem-estar (Globo), o problema atinge cerca de seis milhões de brasileiras, sendo que 15% das mulheres entre 15 e 45 anos têm a doença. Foto: Divulgação "O principal problema é a infertilidade. Mulheres com endometriose possuem 20 vezes mais chances de serem inférteis" O cenário se agrava porque poucas pessoas têm o conhecimento necessário sobre a endometriose. E, por não perceberem os sinais que o corpo dá, o diagnóstico acaba sendo feito quando ela já está em estágio avançado. Para ficar de olho, vale saber que a cólica intensa é um dos sintomas. Mas, como cólicas menstruais são uma constante na vida da mulher, é necessário estar atenta para perceber quando elas ficam resistentes, permanecendo mesmo com a administração de medicamentos e impossibilitando a realização de atividades corriqueiras. Segundo o especialista, ainda não há consenso médico sobre o que leva ao surgimento da endometriose, daí ser difícil falar sobre prevenção. Alguns estudiosos, porém, acreditam que o padrão da menstruação pode estar associado à doença – assim, mulheres com fluxo mais intenso e mais frequente teriam maior risco de desenvolver a doença. Metrópole – O que é a endometriose?José Bento – Endometriose é uma doença que atinge, predominantemente, mulheres em idade reprodutiva e é caracterizada pela presença de endométrio fora do útero. O endométrio é a mucosa que reveste a parede interna do útero e que descama na menstruação. Os pontos mais comuns são os ovários, o peritônio pélvico, as trompas e as áreas entre o útero, a vagina e o reto (septo retovaginal).E quais são os sinais da doença?Os principais sintomas são dor durante o período menstrual ou dor pélvica crônica, dor no ato sexual e infertilidade. No entanto, a endometriose também pode ser assintomática.Como diagnosticar?Quando há suspeita de endometriose pela história da paciente, o exame clínico é o primeiro passo. O diagnóstico pode ser confirmado por meio da visualização das lesões por videolaparoscopia. Também existem outros exames que auxiliam no diagnóstico, como presença do marcador tumoral CA 125 no exame laboratorial, ultrassonografia endovaginal e ressonância magnética. O diagnóstico de certeza, porém, deve ser feito por meio de biópsia para análise histológica.Quais são os problemas que a endometriose desencadeia?O principal problema é a infertilidade. Mulheres com endometriose possuem 20 vezes mais chances de serem inférteis. Além disso, desconforto na relação sexual, cólicas progressivas de forte intensidade, sangramento intenso e diarreia durante o período menstrual podem comprometer a qualidade de vida da paciente.Existe uma maneira de prevenir essa doença?Como são diversos os fatores que podem levar à endometriose e suas causas não são totalmente conhecidas, não existe uma prevenção específica. O que se sabe é que um bom equilíbrio hormonal é fundamental. As atividades físicas regulares também contribuem para o tratamento, porque diminuem o estresse e a ansiedade que estão relacionados a problemas imunológicos, uma das teorias para explicar o aparecimento da endometriose.E como se trata o problema? É necessário recorrer à cirurgia?O tratamento pode ser cirúrgico ou medicamentoso, com bloqueadores análogos de GNRH, que impedem a ação do estrogênio no organismo da mulher e forçam a menopausa. Esse tratamento é indicado por, no máximo, seis meses. Outro método para interromper a menstruação é o uso contínuo de pílulas de baixa dosagem hormonal. O tratamento cirúrgico é realizado por videolaparoscopia e pode ser radical ou conservador.Em média, quanto tempo dura o tratamento?A endometriose é uma doença crônica e, por isso, precisa de tratamento contínuo até a menopausa. Não tem cura, mas tem controle.É comum a doença ser diagnosticada logo no início ou, em geral, só é descoberta em estágio avançado?A paciente leva, em média, oito anos para fazer o diagnóstico e passa por cerca de cinco médicos até que isso aconteça. Como alguns casos são assintomáticos, é possível que algumas mulheres vivam normalmente sem saber que têm endometriose.Existe risco de o problema voltar a aparecer depois do tratamento?Sim, existe. Lembre-se que a endometriose é uma doença crônica e que só vai embora na menopausa.