Coluna publicada na edição de 29/5/18 do Correio Popular
Jogadores de alto nível se preparam para jogos importantes com máxima dedicação. Em uma decisão de Liga dos Campeões, o nível de concentração é o mais alto da temporada. É assim para qualquer finalista. Não importa se é o Real Madrid, cansado de disputar títulos nos últimos cinco anos, ou se é o Liverpool, um gigante que não chegava à final desde 2007. Disputar o jogo de sábado era o sonho de todos os jogadores dos grandes clubes europeus. Mas só o Real de Cristiano Ronaldo e o Liverpool de Salah conseguiram viajar a Kiev. O time espanhol, favorito, sofreu no começo. O desfecho era imprevisível, até que Salah, estrela maior dos ingleses, ficou fora de combate. A lesão provocou uma perda técnica e um abalo emocional. Mas ainda assim o Liverpool seguiu bem no jogo. A lesão de um jogador importante é um risco que faz parte do jogo. O drama de Salah não foi o primeiro e não será o último. O próprio Cristiano Ronaldo saiu chorando de campo aos 24’ do 1º tempo da final da Eurocopa de 2016, contra a França. Acontece. O que é muito difícil de acontecer, até mesmo nas divisões inferiores dos campeonatos de menos prestígio, é uma falha tão grotesca como a de Karius no primeiro gol da partida. O goleiro do Liverpool errou uma reposição com as mãos e soltou a bola no pé de Benzema. O erro bisonho não derrubou o Liverpool, que empatou pouco depois. Bale colocou o Real novamente em vantagem com um golaço de bicicleta. A vitória estava encaminhada, mas não definida. O time inglês ainda lutava. Até que Karius falhou feio em um chute de longa distância de Bale. Um frangaço. O goleiro de 24 anos decidiu a Liga dos Campeões. Depois do jogo, Karius chorou e pediu desculpas à torcida. Não tinha mais nada a fazer. Mesmo que deixe o clube, carregará para sempre as lembranças de uma atuação desastrosa no jogo de sua vida. Karius defende a seleção da Alemanha desde o sub-16. Joga em um dos times mais ricos do mundo. Com suas habilidades, realizou o sonho de milhões e milhões de atletas que nunca vão chegar perto de um clube desse porte. Karius conseguiu tudo isso. E, no jogo de sua vida, levou um frangaço e deu um gol absurdo. Como isso acontece com um atleta desse nível? Não há resposta. Mesmo depois que parar de jogar, ele será cobrado por suas falhas bisonhas e não terá o que responder. Não dá para explicar como um goleiro do seu nível pode ter errado tanto no jogo para o qual fez a melhor preparação possível. Ninguém vai esquecer. Mas a única coisa que Karius tem a fazer é erguer a cabeça e seguir em frente. Só com boas atuações, vitórias e títulos ele poderá amenizar o drama que escreveu seu nome na história da Liga dos Campeões.