JOGO RÁPIDO

Não foi o último

Coluna publicada na edição de 27/11/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
27/11/2018 às 03:00.
Atualizado em 05/04/2022 às 23:42

Há décadas que a Conmebol é conivente com atletas, técnicos, dirigentes e torcedores que desrespeitam regras, ignoram punições e cometem crimes em torneios sul-americanos. A confederação sempre agiu com irresponsabilidade ao punir infrações gravíssimas com penas brandas, quase sempre reduzidas semanas depois. Com clubes argentinos, a complacência é ainda maior. É graças a essa cumplicidade da Conmebol que a histórias da Libertadores e dos demais torneios sul-americanos é marcada por tantas ocorrências de violência e indisciplina, dentro e fora de campo. Em 2012, a final da Sul-Americana entre São Paulo e Tigre teve um tempo só. Os argentinos provocaram uma enorme confusão no vestiário no intervalo e resolveram não voltar a campo. Nas oitavas de final de 2015, o clássico entre Boca Juniors e River Plate também teve um tempo só. Torcedores do Boca jogaram spray de pimenta no túnel do adversário e os jogadores do River não conseguiram disputar a etapa final. Na final da Copa Conmebol de 1997, profissionais do Atlético-MG foram agredidos covardemente dentro de campo após a final com o Lanús. O técnico Leão teve que se submeter a uma cirurgia para fazer um enxerto no rosto, que sofreu várias lesões. O garoto Kevin Espada, de 14 anos, foi assassinado na arquibancada durante o jogo San José x Corinthians, em Oruro, pela Libertadores de 2013. O boliviano foi atingido por um sinalizador disparado por corintianos. Esses são apenas alguns casos. Outros tantos fazem parte da história do futebol sul-americano. Em comum, punições brandas ou nem isso. A conta por tamanha irresponsabilidade chegou no sábado. Em uma das finais mais importantes e esperadas da história do futebol, a Libertadores passou vergonha. O jogo que o mundo queria ver foi adiado porque torcedores do River atacaram o ônibus do Boca. E nem assim a Conmebol teve pulso. De forma melancólica, tentou durante horas realizar a partida, mesmo com jogadores feridos por estilhaços e intoxicados por gás de pimenta. A entidade não pensou em punir o River e nem em liberar assim que possível o público que lotou o Monumental. Tudo que o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, queria era realizar o jogo, para agradar a Fifa e diminuir a repercussão do caso. Não deu. A bagunça virou notícia no mundo inteiro e manchou a já desgastada imagem do futebol sul-americano. Como está claro que a Conmebol é incapaz de detectar e combater o problema, a final de 2018 certamente não será o último grande vexame da história da Libertadores.

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