MARCOS INHAUSER

Não confunda veemência com estridência!

Marcos Inhauser
18/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 02:18
ig-Inhauser (AAN)

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A vida me deu certo gosto pela precisão no uso das palavras. Só o gosto, porque a prática tem se mostrado muito mais complicada que a intenção. A intenção é boa, mas... Neste afã de entender o sentido preciso das palavras, andei “assuntando” nestes dias sobre o significado de quatro delas, relacionadas por serem do contexto da comunicação e se referirem ao comportamental. Como seres humanos, temos “sangue” que nos move a mostrar os sentimentos quando falamos. Especialistas atribuem à linguagem corporal e à metalinguagem algo em torno de 75% do processo comunicacional. A primeira palavra é indolência. Ela veio do latim indoles (prefixo in significando negação e dolens e dolere usadas para dor). No português, indolência está mais para a passividade, para a atitude indiferente em relação aos fatos e/ou fala.   O indolente é aquele que ouve um insulto e parece que não ouviu ou não deu bola para o que lhe foi dito. É aquele que, quando fala, mais parece ter sangue de barata que ser uma pessoa com sentimentos e convicções. Parece que não acredita no que fala.   A segunda é veemência. Ela também veio do latim: vehementia, significando o ardente, que tem vigor. Ela tem uma relação com vehere, que significa levar ou portar. A pessoa veemente é a que fala e acredita no que fala e leva isso aos seus ouvintes. Ela fala com “sangue nos olhos”. Acredita e quer que os demais acreditem no que está falando.   Uma pessoa veemente não vai falar baixinho, manso. Antes, terá um tom de voz mais elevado para expor o que pensa. Os ultrassensíveis acharão que ela exagera, que poderia e deveria falar com menos vigor e intensidade, que grita quando fala.   A terceira é estridente, que também vem do latim (stridente, que significa fazer ruído). O estridente é verborrágico, fala alto como se o volume da sua fala pudesse ser entendida como veemência. O estridente, no mais das vezes, é uma pessoa sem argumentos que usa da gritaria para fazer calar as vozes que não quer ouvir.   Há o estridente que se vale da tergiversação da fala do outro para fazer valer seu raciocínio, pois cria ruído na comunicação e entende o que lhe convém entender.Há ainda a violência, que também vem do latim (violentus: “o que age pela força”, com sentido derivado de violare que é “tratar com brutalidade, desonrar, ultrajar”).   O violento na comunicação tem a intenção de ofender e ultrajar o outro, faltando com o respeito e usando, no mais das vezes, palavras de baixo calão.Há certo consenso de que a sociedade brasileira é indolente no que se refere às questões políticas.   O consenso é que o brasileiro faz piada de tudo e tem memória curta. Parece que a cúpula do PT acredita nisso. Acham que podem fazer o que querem que o povo vai fazer piada e logo cai no esquecimento.   Quando o povo decidiu comunicar com veemência o que acredita e quer, não poucos foram os que se levantaram para tergiversar o que está acontecendo e alguns partiram para a estridência. Neste contexto, entendo que o panelaço foi estridência e não veemência. Chamar os manifestantes de “elite branca” e “coxinhas” foi violência.   Mas, na fala dos ministros que deram a cara para aliviar a vergonha da Dilma, houve veemência e estridência. Afirmaram com a convicção que se esperava que deveriam ter (ainda que não concorde com eles), mas a estridência ficou por conta do Rosseto ao dizer que falar de impeachment é ilegal e que os manifestantes eram pessoas que não tinham votado na Dilma. Puro ruído para atrapalhar o que as ruas estavam dizendo.   Se alguém puder ensinar isto ao Rosseto, ao Mercadante, Berzoini e Cardoso, eu, na minha humildade, agradeceria, mesmo porque não acredito que eles tenham tempo para ler o que este escriba da periferia tem a dizer.

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