Não acredito!

Se existia alguém realmente desesperado para ganhar dinheiro de forma rápida e poder largar logo o emprego chato que não aguentava mais, esse alguém era o Oliveira.

Para você ter uma ideia, o Oliveira fazia fezinha em todas as modalidades de loteria. Também comprava rifa, colocava umas moedas num caça-níquel clandestino que conhecia – não contem isso à polícia, por favor – e, sempre que dava, arriscava a sorte num joguinho do bicho, que rolava aos domingos, no bar perto da casa dele.

Ele jogava tanto, que às vezes ficava até meio perdido no meio das apostas. Não lembrava se o resultado já tinha saído, se já havia conferido o bilhete ou não, se aquele bilhete que estava na mão era daquela semana ou da passada. Ou da retrasada.

Essa situação acabou virando um prato cheio na mão do pessoal do escritório em que o Oliveira trabalhava.

Numa quinta-feira, dia de conferir a apostinha da semana, todos chegaram mais cedo no trabalho – menos o Oliveira e o chefe – para aprontar a pegadinha. Com os números apostados pelo o amigo em mãos, simularam um resultado falso para aquele sorteio da loteria. Um resultado que dava o prêmio para o Oliveira. Tudo para ver a explosão de felicidade dele ao saber que era o ganhador e, principalmente, a cara de tacho ao ficar sabendo que era tudo mentira.

Mal o Oliveira pisou no escritório, todo mundo foi pra cima dele com o resultado falso. Fizeram tanta festa, falaram tanta coisa na cabeça dele, que ele não sabia nem como reagir, simplesmente ficou estático. Era emoção demais para ele.

Depois que a farra cessou, calmamente ele passou a comparar os números do seu bilhete com o papel que os amigos haviam impresso. Realmente eram iguais. Depois que terminou de conferir, ele se pôs a pensar por um minuto. Não disse nada, não esboçou um sorriso, um nada.

Quando o pessoal já ficava angustiado, a ficha do Oliveira caiu. E ele caiu na festa. Começou a correr e berrar pelo escritório inteiro, feito uma criança. Uma criança muito rica:

– Rárárá! Não acredito! Eu tô rico, eu tô rico! Rárárá! Eu tô rico!

Enquanto ele dava aquele show, toda a rapaziada ia ao delírio. Se aquela reação estava boa daquele jeito, imagina quando ele descobrisse que era tudo brincadeira.

Não deu tempo. Nesse meio tempo o chefe chegou e o Oliveira não se conteve, vomitou uma série de verdades na cara dele – que fique bem claro que aqui vou transcrever apenas as publicáveis:

– Chegou quem eu queria! Toma, seu panaca, não preciso mais aguentar seu mau humor. Não preciso mais aguentar suas grosserias, sua falta de tato, sua arrogância, nem seu mau hálito. Não preciso mais aguentar você! Eu ganhei na loteria e agora estou rico. Muito rico!

Não tinha mais ninguém rindo no escritório. E na primeira chance que o Oliveira deu, um dos rapazes do escritório cutucou ele e disse que na verdade o resultado era forjado, uma montagem, tudo não passava de uma brincadeira.

Até o sangue do Oliveira gelou. Um filme se passou diante dos olhos dele. Ele já se via demitido por justa causa, sem conseguir arranjar emprego nunca mais, respondendo um tremendo processo e tendo que viver de artesanato pelo resto da vida. Quando voltou à realidade, esse se virou para o chefe e disse:

– Olha, seu Tadeu... Eu sei que nada do que eu disser pro senhor vai adiantar, mas...

– E nem precisa dizer mais nada, Oliveira! Já basta tudo o que eu tive que ouvir agora pouco. Você passou dos limites...

– Desculpe, eu...

– E isso foi ótimo! Porque ninguém nunca foi tão sincero comigo. Esse feedback foi sensacional. Imagina quantas pessoas eu não afastei com minhas atitudes. E com meu mau hálito, então? Meu Deus... Me arrepia só de pensar. Mas agora tudo faz sentido, e eu poderei ser uma pessoa melhor daqui pra frente. Tudo graças a você, Oliveira. Muito obrigado. Como recompensa, você vai ser promovido. E também vai ganhar um aumento! Não é como ganhar na loteria, mas já é alguma coisa...

Pronto, estava feito. Após anos de tentativa, finalmente o Oliveira conseguiu ganhar dinheiro de maneira rápida.