ig-tadeu-fernandes (AAN)
Estamos em pleno Carnaval; este ano optei em não viajar, chega de engarrafamentos, apertos e correrias, vesti minha fantasia de “Belo Adormecido” e estou em casa morgando, zapeando a TV, mas o assunto é só Carnaval, as musicas cada vez pior, letras horríveis e o ritmo é o tum ta tum ta tum ta, uma agressão aos meus ouvidos e a minha saudosa mãe que adorava escutar meus treinos no piano.
Sim, desde os cinco anos estudei piano, primeiro com dona Dulce Duarte tradicional professora do bairro, na época conhecida pelos excelentes dons musicais, hoje como mãe da famosa atriz Regina Duarte.
Depois foi a vez da professora Olga; enérgica, brava, exigente, mas com um coração que transmitia paz e harmonia.
Infelizmente o tempo e o sacerdócio da Medicina me afastaram da música, e aqueles dez anos de partitura e concentração musical acabaram esquecidos em algum canto de meu cérebro.
Periodicamente pais de meus pacientes perguntam sobre alguma atividade extracurricular para seus filhos, acabamos repetindo a rotineira seqüência do futebol, balé, karatê, natação e confesso, raramente recomendo a arte de desenvolver a musicalidade.
Ficamos tão obstinados em tirar a criançada do sedentarismo, que nos vem à cabeça somente atividades aeróbicas; falha nossa!
Semana passada os pesquisadores da Universidade McMaster, Canadá, resgataram minha memória musical, publicaram na tradicional revista Brain um excelente estudo comparando crianças, com idades entre 4 e 6 anos, que tinham aulas de música com outras que não tinham.
Eles descobriram que após 4 meses, o grupo onde a musicalidade foi desenvolvida obteve melhores desempenhos nos testes de memória, desenvolvidos especificamente para avaliar habilidades da criança em alfabetização e matemática.
A pesquisa também mediu as mudanças nas respostas cerebrais das crianças aos diferentes sons, usando uma técnica chamada magneto-encefalografia (MEG), onde eles avaliam a atividade cerebral frente a dois tipos de sons: uma nota de violino e ruídos do ambiente.
Os resultados foram impressionantes, as crianças tiveram respostas cerebrais mais fortes ao escutar sons de violino, indicando que uma força cerebral maior é usada para processar sons com algum significado.
Isso sugere que o treinamento musical tem um notório efeito sobre como o cérebro se conecta para funções cognitivas gerais, principalmente aquelas relacionadas à memória e à atenção.
Conversei com vários pais sobre esse estudo e para minha surpresa todos se mostraram interessados com os resultados, mas foram unânimes em dizer “eu nunca tinha pensado em colocar meu filho em uma escola de música”.
Pois fica um alerta para os colegas, educadores e pais; vamos resgatar essa importante ferramenta de desenvolvimento, certamente fará um bem tremendo trocar algumas horas de computador, vídeo game e televisão pela nobre arte da música.
Agora com mais convicção, acabo de ver na TV Claudia Leite e o Chinês Psy cantando e dançando é o Tchan; mudei de canal; e agora vejo Thiaguinho e Dodô, socorro !