CAMPINAS

Museu do Café espera por reforma no casarão

Prefeitura estima que as obras comecem em 90 dias e deverão custar cerca de R$ 250 mil

Rogério Verzignasse
30/08/2013 às 05:01.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:45
O arquiteto Pedro Parazzolo: proteção ao acervo educativo do museu ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

O arquiteto Pedro Parazzolo: proteção ao acervo educativo do museu ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

As manchas de umidade se espalham pelo teto. O beiral de madeira está destruído. O balaústre de madeira caiu de podre. O cupim toma conta de forros e assoalhos. O revestimento das paredes descasca. O cenário mostra a decadência do Museu do Café, um prédio belíssimo de mil metros quadrados, construído para ser um espaço de exposições, visitas monitoradas, oficinas e seminários. A infestação do carrapato-estrela, causador da febre maculosa, obrigou a Prefeitura de Campinas a fechar o acesso ao parque ao redor. Desde 2008, o casarão está fechado, sem manutenção. O acervo fica esquecido nos cômodos. Há reprodução de obras de arte, equipamentos agrícolas, mobília de época, objetos de decoração, painéis com textos didáticos sobre a evolução da urbe.Diante do quadro preocupante, o governo municipal planeja começar, dentro de 90 dias, as obras de restauração do imóvel, orçadas em R$ 250 mil. De acordo com o diretor de Cultura, Gabriel Rapassi, serão feitos reparos estruturais, com descupinização, correção de falhas no telhado e pintura. Nos próximos três meses, acontecem os procedimentos licitatórios para a contratação dos serviços. A ideia é começar a reforma até o final do ano. De acordo com o arquiteto Pedro Parazzolo, servidor da Secretaria Municipal de Cultura alocado no museu, a última grande reforma do imóvel aconteceu em 2002. Os cômodos foram usados na realização de uma mostra de arquitetura e decoração. Como contrapartida, os idealizadores bancaram a substituição das redes elétricas e hidráulicas, reforma do telhado, instalação de novos pisos e peças sanitárias, acabamento de portas e janelões. “Com o tempo, as telhas desalinhadas provocaram goteiras. A caixa d’água apresentou vazamentos. Assim, o papel de parede descolou, a tinta descascou, o parapeito da varanda apodreceu, apareceram as manchas de umidade. Ficou perigoso trazer estudantes aqui para dentro”, fala.ProteçãoEnquanto as obras não começam, Parazzolo e uma equipe formada por outros três técnicos se ocupam de organizar e proteger o acervo educativo. Seis vigilantes se alternam em turnos ininterruptos de trabalho para evitar que visitantes do parque se aventurem pelos cômodos. Todos os acessos estão fechados por fitas plásticas ou correntes. Rapassi explica que, até agora, foi possível fazer a limpeza interna dos cômodos, e a poda preventiva das árvores ao redor do prédio, para que a queda de galhos das copas não prejudicasse ainda mais o telhado avariado.O museu fechado ao público tem as paredes internas decoradas com reproduções de obras clássicas de Rugendas, Debret e Lasar Segall, que mostram os escravos amontoados no porão dos navios negreiros, martirizados em pelourinhos, aprisionados em senzalas, manobrando ferramentas. Conforme o visitante caminha pelos cômodos, ele mergulha em outras etapas da história, como o movimento abolicionista, a chegada dos imigrantes europeus e a industrialização.O arquiteto Parazzolo conta que sente saudades de ver a criançada lotando os cômodos, encantada com os equipamentos agrícolas preservados (traçadores, moedores e foles), essenciais na produção do campo. Os pequenos também se encantavam como peças decorativas como lustres, rocas, pias batismais, aparadores, sofás e camas (símbolos da aristocracia rural do passado). “A gente não vê a hora de receber os estudantes de novo”, diz.HistóriaO prédio onde foi instalado o Museu do Café é uma cópia aproximada, inaugurada em 1972, da antiga casa sede da Fazenda Taquaral. As terras pertenceram a Barreto Leme, fundador de Campinas. Sob a administração de Francisco de Paula Bueno, o engenho instalado produzia 2 mil arrobas de açúcar anualmente. Mas os cafezais aos poucos tomaram toda a propriedade rural, que ajudou a transformar Campinas na maior produtora estadual do grão por volta de 1885. No começo do século 20, a fazenda foi dividida em diversos sítios, que contratavam mão de obra. Mas, com a crise do café, as terras acabaram confiscadas pela União, e serviram às pesquisas agrícolas. Em 1991, um acordo transferiu a administração definitiva da gleba ao Município, que começou a transformar os 330 mil metros quadrados no entorno do casarão em um novo parque público, o Lago do Café. O museu foi inaugurado em 1996.O imóvel foi totalmente reformado em 2002 pela Campinas Decor, mas voltou a fechar em 2008, por conta da infestação de carrapatos-estrela. O parque foi reaberto em maio, após os procedimentos técnicos de desinfecção.

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