Distúrbios são comuns nesta data, quando jovens agem de forma agressiva nas regiões pobres
De acordo com a polícia, ao menos dez manifestantes foram detidos nas últimas horas, além dos 68 presos de madrugada (France Press)
Violentos distúrbios, com tiros e ao menos três ônibus incendiados, foram registrados na noite desta quarta-feira (11) na periferia de Santiago, por ocasião do 40º aniversário do golpe militar que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, em 1973, informou a polícia. Como já havia ocorrido nas primeiras horas de quarta-feira, manifestantes incendiaram barricadas e trocaram tiros com a polícia esta noite nos bairros de Villa Francia, Lo Hermina e San Bernardo. Em Villa Francia, San Bernado e La Florida foram incendiados três ônibus públicos e imagens da TV mostraram manifestantes atirando contra a polícia. De acordo com a polícia, ao menos dez manifestantes foram detidos nas últimas horas, além dos 68 presos de madrugada, quando foram incendiados outros cinco veículos. Nas cidades de Valparaíso (120 km a oeste de Santiago) e Concepción (500 km ao sul), também ocorreram incidentes entre policiais e manifestantes. No Estádio Nacional de Santiago, mais de mil pessoas acenderam velas em memória das vítimas da ditadura de Augusto Pinochet. Ao anoitecer, vários grupos se reuniram nos arredores do estádio, localizado em Ñuñoa, em Santiago, onde mais de 40 mil prisioneiros políticos foram mantidos, após a instalação da ditadura de Pinochet, em 11 de setembro de 1973. Com velas no chão, cravos vermelhos e fotografias das vítimas que continuam desaparecidas, famílias inteiras prestaram homenagem aos cerca de 3.200 executados ou desaparecidos durante os 17 anos da ditadura de Pinochet. Do lado de fora, mas também no campo e nas arquibancadas, todos fizeram silêncio pelas mais de 12 mil pessoas torturadas nesse local, para onde o regime levou os presos políticos inicialmente - de acordo com números da Anistia Internacional. Perto de um cartaz que dizia "somos os netos e filhos de quem você não conseguiu matar", um grupo colocava sapatos de plástico transparente com velas dentro para simbolizar os desaparecidos. A vigília acontece todos os anos no Estádio Nacional. Desta vez, por se tratar do 40o aniversário do golpe, houve mais gente do que o habitual, ao fim de um dia que começou com incidentes na periferia da capital e que seguiam até de noite. Os distúrbios são comuns nesta data, quando jovens, em sua maioria, agem de forma agressiva nas regiões pobres de Santiago contra a Polícia. Também são registrados saques a lojas e ataques à rede de fornecimento de energia elétrica. Para enfrentar a data, a polícia estabeleceu um plano especial de vigilância, que incluiu um esquema de proteção com um contigente adicional de 8.000 policiais em Santiago. As lojas e quase todos os serviços públicos fecharam suas portas bem mais cedo que o habitual, para permitir o retorno dos trabalhadores para casa. O presidente Sebastián Piñera liderou mais cedo uma cerimônia religiosa no palácio presidencial de La Moneda, bombardeado por ar e terra no dia do golpe de Estado. Ao fazer seu discurso, Piñera afirmou que "chegou o momento, depois de 40 anos, não de esquecer, mas de superar os traumas do passado". "O melhor legado que podemos entregar aos nossos filhos é dar a eles um país reconciliado e em paz", acrescentou Piñera, o primeiro presidente de direita após a chegada da democracia, em 1990. No âmbito da celebração, Piñera se distanciou da posição demonstrada até agora pelo setor político que representa, dando maior ênfase às responsabilidades dos políticos da ditadura e de seus "cúmplices passivos" no desrespeito aos direitos humanos. Também se referiu ao papel de jornalistas e juízes da época, o que motivou um reconhecimento por parte da Suprema Corte de suas omissões na proteção às vítimas da ditadura, por ter rejeitado milhares de recursos de amparo a seu favor. O presidente reiterou nesta quarta-feira sua condenação aos responsáveis diretos pela violação dos direitos humanos no Chile, mas "também aos que, podendo ter feito mais por terem cargos de responsabilidade, simplesmente não o fizeram". "Para poder seguir reconciliando nosso país, vamos ter que continuar avançando pelos caminhos da verdade e da justiça", acrescentou. O golpe de Estado de Pinochet derrubou o governo socialista de Salvador Allende e instaurou 17 anos de uma ditadura que deixou mais de 3.200 mortos e 38.000 torturados.