Ao organizar um desfile militar nesta quinta-feira (8), véspera da abertura dos "Jogos da Paz" na Coreia do Sul, Pyongyang busca aproveitar a grande exposição midiática para reafirmar diante do mundo sua potência nuclear, garantem especialistas
Ao organizar um desfile militar nesta quinta-feira (8), véspera da abertura dos "Jogos da Paz" na Coreia do Sul, Pyongyang busca aproveitar a grande exposição midiática para reafirmar diante do mundo sua potência nuclear, garantem especialistas.A Coreia do Norte anunciou no mês passado que neste ano irá comemorar o 70º aniversário de suas Forças Armadas em 8 de fevereiro, ao invés da tradicional data de 25 de abril.A notícia surpreendeu o mundo, principalmente devido aos esforços da Coreia de Norte -imersa numa espetacular turnê diplomática- para poder enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de inverno, entre 9 e 25 de fevereiro em PyeongChang.As últimas imagens tomadas por satélite, que datam de segunda-feira, mostram cerca de 13.000 pessoas ensaiando em um campo perto de Pyongyang, mas com um número limitado de peças de artilharia e blindados, segundo o site americano de referência 38North."O Norte se declarou no ano passado Estado nuclear", lembra Park Won-Gon, professor de Relações Internacionais na Universidade Handong, na Coreia do Sul."Quer 'normalizar' seu auge militar e seu status de potência nuclear organizando o desfile e participando no dia seguinte nos Jogos Olímpicos como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse nenhum mal nisso", explicou à AFP.Tal estratégia poderia ser contraproducente.Acolhida com satisfação por Seul e pelo Comitê Olímpico Internacional, a presença norte-coreana nos Jogos Olímpicos gerou desconfiança entre numerosos especialistas, que enxergam uma manobra para limpar a imagem do regime e aliviar punições que pesam sobre Pyongyang. Mas sem ceder um palmo no que diz respeito à questão nuclear.- 'Farsa' -Os Estados Unidos já afirmaram que gostariam que o desfile norte-coreano não acontecesse na quinta-feira. O site de informação norte-americano Axios citou um assessor do vice-presidente do país, Mike Pence -que estará presente na cerimônia de abertura desta sexta-feira-, referindo-se à participação norte-coreana como um ato de "propaganda"."Tudo o que os norte-coreanos fazem nos Jogos Olímpicos é um farsa destinada a ocultar o fato de que são o regime mais tirânico do planeta", completou o assessor.A dinastia Kim, que governa o Norte da península há 70 anos, domina perfeitamente a arte de monopolizar a atenção mundial.Frequentemente, Pyongyang lançou ou ameaçou lançar mísseis quando personalidades importantes visitavam Seul, ou durante eleições ou posses na Coreia do Sul ou Estados Unidos.A Coreia do Norte também se destaca pelos gigantescos desfiles nos quais milhares de soldados atravessam marchando a praça Kim Il-Sung, antes ou depois do balé de veículos militares cada vez mais impressionantes, reflexo dos supostos avanços do programa balístico nacional.Esta exibição de poderio militar é realizada diante de dezenas de milhares de espectadores e do olhar satisfeito de Kim Jong-Un, que assiste a tudo de cima do palanque oficial.A Coreia do Norte costuma convidar centenas de jornalistas estrangeiros para que o acontecimento tenha a maior repercussão internacional possível. Algo que não fez este ano.Os desfiles são também uma estratégia de comunicação direcionada ao povo norte-coreano "para lutar contra eventuais ciumes dos Jogos Olímpicos de PyeongChang", observou Cheong Seong-Chang, do Instituto Sejong.- 'Não mendigar um diálogo' -"É uma forma de dizer ao povo: 'Estamos atrasado em relação ao Sul do ponto de vista econômico, mas estamos em vantagem no âmbito militar", explicou.Em Seul, este desfile é um tapa na cara do presidente Moon Jae-In, partidário de uma retomada do diálogo intercoreano e que pressionou pela presença do Norte nos Jogos.Este tipo de desfile geralmente demanda meses de preparos e ensaios. Mas, ao que tudo indica, a exibição desta quinta-feira será menor do que as anteriores, talvez em parte devido às gélidas temperaturas registradas nesta época do ano em PyongChang. E, até o momento, nenhum míssil foi flagrado pelas imagens via satélite.O fato de não haver jornalistas estrangeiros convidados reflete talvez um desejo de controlar melhor a narrativa deste desfile.O Norte "tenta evitar dar a impressão de que provoca a comunidade internacional", afirmou o primeiro-ministro sul-coreano, Lee Nak-Yeon.Principalmente quando uma delegação de alto nível norte-coreana, encabeçada por Kim Yong-Nam, que ostenta o cargo honorífico de chefe de Estado da Coreia do Norte, é esperada para a cerimônia de abertura."O desfile busca provavelmente afirmar o novo status nuclear da Coreia do Norte", justificava na segunda-feira um editorial do jornal sul-coreano JoongAng."Devemos acolher os atletas do Norte, mas não devemos mendigar um diálogo".