apoiadores do presidente

Twitter e Facebook bloqueiam contas

Suspensão de perfis de aliados de Bolsonaro foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
25/07/2020 às 12:24.
Atualizado em 28/03/2022 às 20:39
Empresário Luciano Hang, ativista Sara Winter e ex-deputado Roberto Jefferson estão entre os investigados (Divulgação)

Empresário Luciano Hang, ativista Sara Winter e ex-deputado Roberto Jefferson estão entre os investigados (Divulgação)

Apoiadores bolsonaristas foram suspensos do Twitter e Facebook ontem por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). As contas e páginas do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), dos empresários Luciano Hang e Otávio Fakhoury, da extremista Sara Giromini (Sara Winter), do blogueiro Allan dos Santos e de outros aliados do presidente Jair Bolsonaro estão fora do ar no Brasil. O bloqueio foi determinado pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, no inquérito das fake news — que apura notícias falsas, ofensas e ameaças contra autoridades. A medida foi justificada pela necessidade de 'interromper discursos criminosos de ódio' e solicitada em maio, quando apoiadores do governo foram alvo de buscas em operação da Polícia Federal. Twitter e Facebook cumpriram ontem a determinação e suspenderam as contas após serem intimados nesta quarta-feira pelo próprio Alexandre de Moraes, sob pena de multa diária de R$ 20 mil em caso de descumprimento. Na época, o ministro apontou 'sérios indícios' de que o grupo praticou crimes de calúnia, difamação, injúria, associação criminosa e contra a Segurança Nacional. "Essas tratativas ocorreriam em grupos fechados no Whatsapp, permitido somente a seus integrantes. O acesso a essas informações é de vital importância para as investigações, notadamente para identificar, de maneira precisa, qual o alcance da atuação desses empresários na intrincada estrutura de disseminação de notícias fraudulentas", disse Alexandre de Moraes. A investigação cita depoimentos dos deputados federais Alexandre Frota (PSDB-SP) e Joice Hasselmann (PSL-SP), que contaram detalhes sobre o funcionamento do 'gabinete do ódio' na CPMI das Fake News, no Congresso. Influenciadores O blogueiro Allan dos Santos foi identificado pela Polícia Federal como um dos influenciadores do esquema de divulgação de ofensas e fake news contra o STF. Foi detectada a existência de um 'mecanismo coordenado de criação e divulgação' das mensagens contra ministros. Os perfis de influenciadores usavam seus seguidores para criar hashtags que atacassem o STF, para só então reproduzi-las em suas contas. Dessa forma, acreditavam que não seriam responsabilizados pela criação das hashtags. A PF identificou indícios de que as publicações são disseminadas por meio de robôs, financiados por empresários em sigilo, para atingir número expressivo de leitores. Busca no Twitter entre 7 e 11 de novembro de 2019 identificou publicações de ataques ao STF, como #STFVergonhaNacional e #STFescritóriodocrime, além dos nomes dos ministros e palavras-chaves como Impeachment e Supremo. Em comum, ao menos 11 perfis que seguem uns aos outros nas redes foram identificados, incluindo Allan dos Santos. Um dos exemplos citados pela PF ocorreu em 7 de novembro, quando os influenciadores iniciaram ataques dizendo que o STF é 'uma vergonha', clamando por impeachment contra os ministros, mas sem utilizar a hashtag #ImpeachmentGilmarMendes. A hashtag foi criada por seguidores dessas contas, que passaram a responder aos perfis influenciadores utilizando o termo. Foi somente em 11 de novembro que 10 dos 11 perfis investigados passaram a utilizar a hashtag para impulsionar o ataque, de forma a alcançar os assuntos mais comentados do Twitter. "Assim, os perfis influenciadores não apareciam como criadores da hashtag que simboliza o ataque", aponta a PF. Empresários O dono da rede de lojas de departamento Havan, Luciano Hang, é suspeito de participar do núcleo financeiro supostamente responsável pelo impulsionamento de vídeos e materiais 'contendo ofensas e notícias falsas com o objetivo de desestabilizar as instituições democráticas e a independência dos Poderes'. Os empresários integrariam o grupo autodenominado 'Brasil 200 Empresarial'. Para a Procuradoria Eleitoral, as investigações no Supremo podem ajudar a identificar os financiadores da suposta 'rede de propagação de mensagens falsas ou agressivas' pautada pelo chamado gabinete do ódio — grupo que gerenciou as redes sociais do então candidato Jair Bolsonaro nas eleições e, após a vitória, ganhou sala ao lado do gabinete do presidente no Palácio do Planalto. Roberto Jefferson A Polícia Federal também identificou 'sérios indícios' de práticas de crimes cometidos pelo ex-deputado, sendo 'um dos responsáveis pelas postagens reiteradas em redes sociais contendo graves ofensas' à Corte. Um dos casos citados foi a foto publicada por Jefferson segurando um fuzil, na qual afirmava estar se preparando para 'combater o bom combate'. Em live, ele defendeu a 'demissão e substituição dos 11 ministros do STF, herança maldita'. Prisão A extremista Sara Giromini, que chegou a ser presa na investigação que apura a organização e financiamento de atos antidemocráticos, gravou vídeos ameaçando o ministro após ter celular e computadores apreendidos no inquérito das fake news. Desde que deixou a cadeia, a bolsonarista precisa cumprir medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de contato com os demais investigados. Além disso, Sara só pode sair de casa para trabalhar ou estudar e, mesmo nesses casos, precisa manter distância mínima de um quilômetro das sedes do STF e do Congresso Nacional. Outro lado Joao Manssur, advogado do empresário Otávio Fakhoury, afirma que a medida é desproporcional e contrária ao princípio da liberdade de expressão. Apesar de ter obtido habeas corpus para evitar a suspensão dos perfis nas redes, as contas foram bloqueadas ontem. "Gritante a violação ao direito de Fakhoury à livre manifestação de seu pensamento com o bloqueio de contas das redes sociais, uma verdadeira censura", afirma o advogado.

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