INTERNACIONAL

Silêncio e segurança em Pequim no 30ª aniversário da repressão da Praça da Paz Celestial

O doloroso silêncio, uma grande operação de segurança, detenção de ativistas e censura na internet marcaram nesta terça-feira os 30 anos da repressão violenta na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim

AFP
04/06/2019 às 09:10.
Atualizado em 31/03/2022 às 00:47

O doloroso silêncio, uma grande operação de segurança, detenção de ativistas e censura na internet marcaram nesta terça-feira os 30 anos da repressão violenta na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim.Em um dia cinza e nublado, a polícia verificava documentos de identidade de cada turista e cada passageiro que saía da estação de metrô nas proximidades da Praça, onde uma grande manifestação foi dispersada brutalmente com o uso de tanques e soldados em 4 de junho de 1989.O esquema de segurança dificultou a entrada de jornalistas estrangeiros na praça, enquanto os policiais repetiam que não era permitido tirar fotografias.Um cinegrafista da AFP que tentou entrar na praça foi obrigado a sair do local. "Precisa de uma autorização especial", afirmou um guarda.- Pequim responde Pompeo -O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang, criticou as declarações do secretário de Estado americano Mike Pompeo sobre a Praça da Paz Celestial."Esses delírios lunáticos e disparates vão acabar na lata de lixo da história", disse o porta-voz. "A declaração do secretário de Estado Pompeo ataca maliciosamente o sistema político chinês, denigre a situação dos direitos humanos e assuntos religiosos na China, critica gratuitamente a política da China em Xinjiang e interfere gravemente nos assuntos internos da China", afirmou Geng.Pompeo homenageou na segunda-feira "os heróis do povo chinês que se levantaram bravamente há 30 anos na Praça da Paz Celestial para exigir seus direitos"."Durante as décadas seguintes, os Estados Unidos esperaram que a integração da China ao sistema internacional levasse a uma sociedade mais aberta e tolerante. Essas esperanças se viram frustradas", disse Pompeo."O Estado chinês de partido único não tolera nenhuma dissidência e viola os direitos humanos", completou, em um momento de grande tensão política e comercial entre os dois países.A União Europeia (UE) pediu a "libertação imediata dos defensores dos direitos humanos e dos advogados condenados pelos acontecimentos" de Tiananmen.A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, lamentou o "silêncio das autoridades chinesas sobre os acontecimentos e a falta de informação sobre o número exato de mortos e detidos em 4 de junho".O canal público CCTV abriu o noticiário da manhã com a apresentação oficial do logotipo de outro aniversário, os 70 anos da fundação da República Popular, que será celebrado no dia 1 de outubro.As buscas pela palavra Tiananmen na plataforma Weibo, similar ao Twitter, também levavam ao logotipo oficial.- Não existe balanço oficial -Durante os últimos 30 anos o governo censurou qualquer discussão sobre protestos ou repressão. Atualmente há diversas câmeras de segurança em toda área de Tiananmen.Nesta terça-feira, a Praça era ocupada por centenas de pessoas, incluindo crianças com a bandeira chinesa sobre os ombros dos pais, que formaram fila para passar pelos controles policiais e entrar no local para a cerimônia de hasteamento da bandeira.Na noite de 3 de junho de 1989, soldados sufocaram a revolta, após sete semanas de manifestações e greves de fome de estudantes e operários que pediam o fim da corrupção e mais democracia.Após semanas de passeatas e manifestações, o governo mobilizou tanques e soldados que abriram fogo contra os manifestantes e pedestres em 4 de junho.O número exato de mortos é desconhecido. Em geral, segundo dados hospitalares, estima-se que houve entre 400 e mais de mil mortos.Oficialmente, as autoridades nunca afirmaram o que aconteceu realmente naquele dia nem quantas pessoas morreram na repressão."Não há razões para ser otimista a respeito da China neste momentos se você observa o que está acontecendo", afirmou à AFP em Nova York o ativista Zhu Fengsuo."Nem o livro '1984' (de George Orwell) conseguiria chegar tão longe", completou.

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