cultura e saraiva

Será o último capítulo das grandes livrarias?

Em menos de um mês, duas das maiores livrarias do País entraram em recuperação judicial, com dívidas que, somadas, chegam perto de R$ 1 bilhão

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
25/11/2018 às 16:00.
Atualizado em 05/04/2022 às 23:48

Em menos de um mês, duas das maiores livrarias do País entraram em recuperação judicial, com dívidas que, somadas, chegam perto de R$ 1 bilhão. A Cultura recorreu à medida no fim de outubro. Na sexta-feira passada, foi a vez da líder de mercado, a Saraiva, seguir o mesmo caminho. Ainda que editoras e outros varejistas do setor insistam que não se trata de uma crise na demanda por livros - que está em discreta expansão - os problemas das duas varejistas obrigam o mercado editorial a desarmar uma bomba a poucas semanas do Natal: convencer o cliente acostumado a comprar livros nessas duas empresas a procurar o produto em sites, clubes de assinatura ou outras redes. Não se trata de um volume pequeno: Saraiva e Cultura respondem por cerca de 35% das vendas do setor. Diante da necessidade, redes menores, regionais, grandes sites de varejo eletrônico e até as próprias editoras estão virando opções para ajudar os livros a chegar às mãos do consumidor. “Vivemos um paradoxo, pois não se trata de falta de leitores. Esse é um problema crônico no Brasil, mas que não se agravou nos últimos tempos”, diz Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta. “Vamos superar essa travessia do deserto porque existe demanda pelo livro”, conclui. Embora a estratégia da Planeta seja evitar concorrer com sua rede de distribuição, há outras grandes editoras que pensam diferente. Um dos grupos mais tradicionais do País, a Record, por exemplo, vai estrear um e-commerce próprio ainda antes do Natal. A ideia era colocar a opção no ar durante a Black Friday, mas a vice-presidente da companhia, Sônia Machado Jardim, diz que foi preciso resolver falhas técnicas e não houve tempo. Além do novo site, a Record - que concentra 15 selos em diferentes segmentos - também está lançando um clube de assinaturas com curadoria de escritores, seguindo o caminho da Intrínseca, editora que lançou em outubro o “Intrínsecos”, em que assinantes têm acesso a edições especiais, em capa dura, de obras que só serão lançadas posteriormente. “É mais uma opção de receita”, diz Jorge Oakim, fundador da Intrínseca, para quem a crise é das varejistas, e não dos livros - de fato, de janeiro a outubro, a Intrínseca acumulou alta de 23% em vendas na comparação com o mesmo período de 2017. Na web Além dos testes de venda direta pelas editoras, os grandes sites de e-commerce também devem abocanhar parte das vendas da Saraiva e da Cultura. Para algumas grandes editoras, a Amazon já representa cerca de 15% do faturamento - e oferece a vantagem de comprar livros, em vez de pegá-los em consignação. E neste fim de ano, gigantes brasileiras, como Americanas.com e Submarino, também reforçaram aquisições de títulos. Embora a Amazon não revele sua participação de mercado, o diretor da área de livros da gigante americana no Brasil, Mário Meirelles, diz que a receita com o segmento foi recorde nesta Black Friday. “O crescimento está relacionado ao aumento do número de títulos oferecidos e também ao atendimento”. Rivais Embora a venda direta e a busca pelos canais online sejam opção às redes tradicionais, há empresas que no varejo físico também conseguem obter bons resultados. Uma das companhias vistas pelo mercado editorial como candidata a assumir parte do espaço da Saraiva é a Leitura, hoje vice-líder do setor, com 70 lojas no País. Seu presidente, Marcus Teles, disse já ter iniciado negociações com shopping centers para assumir até cinco lojas que a Saraiva fechou. Outra rede de médio porte, a Livrarias Curitiba, atualmente com 29 lojas, a maior parte delas no Paraná e em Santa Catarina, já começa a ocupar espaços em São Paulo sem medo da concorrência. “Buscamos espaços ainda não ocupado, com aluguel mais barato do que o cobrado nos shoppings de primeira linha”, explica Marcos Pedri, diretor comercial da empresa e membro da família que fundou o negócio há 55 anos. A Curitiba chegou em solo paulista pelos shopping Aricanduva e Tucuruvi, na capital, e por Taboão da Serra. A empresa também abriu uma unidade em Diadema. Todas essas áreas tinham um ponto em comum: eram “território virgem” para livrarias. Pedri diz que o fato de o preço do livro ter caído nos últimos anos acabou abrindo uma oportunidade para o produto cair no gosto da classe C. Para garantir um crescimento de 5% a 10% no faturamento, tanto a Leitura quanto a Curitiba vêm apostando em lojas simples, de porte médio e longe dos endereços “classe A”. Para Teles, “o modelo das megastores chiques virou coisa do passado. O nome do jogo agora é austeridade”.

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