A Rússia denunciou neste sábado (3) o caráter belicista e antirrusso da nova postura nuclear americana, anunciada na sexta-feira (2). O ministério russo de Relações Exteriores se declarou profundamente decepcionado e advertiu que tomará as medidas necessárias para garantir a segurança do país frente aos Estados Unidos. Segundo as autoridades russas, a posição americana está "impregnada de todos os estereótipos antirrussos, começando por acusações descabidas de comportamento agressivo e de todo o tipo de ingerências, envolvida em acusações igualmente infundadas e violações de toda uma lista de acordos sobre o controle de armamentos".Os Estados Unidos anunciaram que querem modernizar seu arsenal nuclear e desenvolver novas bombas atômicas de baixa potência, o que pode ser considerada uma resposta às ações russas dos últimos anos. A declaração fez com que especialistas temessem uma reativação da proliferação e um risco maior de um conflito nuclear.A chamada Revisão da Postura Nuclear apresenta as ambições nucleares do Pentágono durante o mandato do presidente Donald Trump e é a primeira vez desde 2010 que o Departamento de Defesa americano explica como prevê as ameaças nucleares nas próximas décadas.Embora o documento do Pentágono, cujo rascunho vazou para a imprensa no mês passado, mencione as ameaças de China, Coreia do Norte e Irã, o enfoque principal é a Rússia. "Essa é uma resposta à expansão da capacidade russa e à natureza de sua estratégia e doutrina", escreveu o secretário de Defesa Jim Mattis no prefácio do texto de 75 páginas. "Isso, somado à tomada da Crimeia por parte da Rússia e às ameaças nucleares contra nossos aliados marcam o decidido retorno de Moscou à competência entre as principais potências", acrescentou. Um dos temores do Pentágono é a Rússia assumir que suas armas de alta potência são, na maioria, grandes demais para serem usadas - já que seu uso provavelmente resultaria em represálias de larga escala e eliminaria do mapa grande parte da humanidade. "Há fortes indícios de que os russos percebem nossa postura e capacidades estratégicas atuais como potencialmente inadequadas para dissuadi-los", disse à imprensa Greg Weaver, encarregado das capacidades estratégicas do Estado-maior americano.Segundo ele, Estados Unidos e Otan precisam de uma gama mais ampla de opções nucleares de baixa potência para dissuadir a Rússia em caso de conflitos. O documento diz que, se tiver armas menores, o Pentágono poderá contrariar as "percepções errôneas" de adversários de que os Estados Unidos não responderiam a outro país usam sua própria bomba de baixa potência. A nova estratégia busca continuar o programa de modernização nuclear ordenado por Obama, que abrange todos os pilares da "tríade": armas balísticas intercontinentais terrestres, foguetes lançados de submarinos e bombas lançadas de aviões. Mas, ao contrário da estratégia de Obama, que buscava reduzir o papel das armas nucleares, a nova política as considera de forma positiva. O ex-presidente americano, durante um famoso discurso em Praga em 2009, pediu a eliminação das armas nucleares. As armas nucleares de baixo rendimento, também conhecidas como armas nucleares "táticas", são extremamente poderosas e podem conter tanto impacto destrutivo quanto as bombas caíram sobre Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos já dispõem de um enorme arsenal nuclear, que inclui 150 armas nucleares B-61 armazenadas em vários países europeus, que podem ser configuradas para operações cujos objetivos podem ser alcançados com bombas de baixa potência.A diplomacia russa vê no documento uma injusta tentativa de Washington de "acusar aos demais de sua própria responsabilidade em detrimento da segurança internacional e regional, resultado de uma série de atos irresponsáveis dos próprios Estados Unidos".pop/bds/acc-me/eg/mc/cn