Enquanto os dois lados se acusam mutuamente, Estados Unidos mobilizam forças armadas
O regime sírio e os rebeldes se acusam mutuamente de ter utilizado armas químicas no ataque de quarta-feira nos subúrbios de Damasco, enquanto aumenta a pressão dos Estados Unidos, que mobiliza forças militares, e da ONU, cuja enviada chegou ao país para investigar os fatos. O ministro sírio da Informação, Omrane al-Zohbi, garantiu neste sábado (23) que Damasco "jamais utilizou armas químicas", rejeitando as acusações da oposição armada. "Jamais utilizamos armas químicas na Síria, sob qualquer forma, líquida ou gás", disse Al-Zohbi em entrevista ao canal de televisão Al-Mayadine, baseado em Beirute. "O Exército sírio não precisa utilizar armas químicas. Seu moral está elevado e realiza progressos diante do terrorismo. Nossas tropas avançam e os terroristas estão acuados", afirmou o ministro. Já a oposição síria desmentiu neste sábado as acusações do regime de que teria usado armas químicas e afirmou que trata-se de uma estratégia do governo para desviar a atenção de seus próprios "crimes". "A Coalizão Nacional Síria rejeita massivamente as informações mentirosas emitidas pelo regime de (presidente Bashar al) Assad e considera que trata-se de uma tentativa desesperada para desviar atenção dos contínuos ataques contra civis". O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) anunciou neste sábado ter contabilizado 322 mortos vítimas de "gases tóxicos" nas proximidades de Damasco na última quarta-feira, baseando-se em novos relatórios médicos. "A OSDH apurou 322 mortos, dos quais 54 crianças, 82 mulheres e dezenas de rebeldes, e mais 16 corpos não identificados". Segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), cerca de "3,6 mil pacientes com sintomas neurotóxicos" chegaram na quarta-feira a três hospitais da província de Damasco após o suposto ataque com armas químicas. "Três hospitais da província de Damasco apoiados pelos Médicos Sem Fronteiras informaram à organização internacional médico-humanitária da chegada de aproximadamente 3,6 mil pacientes com sintomas neurotóxicos em um período de menos de três horas durante a manhã do dia 21, dos quais 355 morreram". Em meio à troca de acusações, a alta representante da ONU para o desarmamento, Angela Kane, chegou ao meio-dia deste sábado a Damasco para negociar os termos de uma investigação sobre o uso de armas químicas. O mandato da missão de especialistas da ONU, dirigida por Aake Sellström, que chegou a Damasco dia 18 de agosto, se limita a investigações sobre a utilização ou não de armas químicas este ano em Jan al Asal (norte), Ataybe (próximo de Damasco) e Homs (centro). Contudo, depois dos últimos acontecimentos, a comunidade internacional pediu que esses especialistas possam ir o quanto antes ao local do ataque para verificar as acusações. O presidente norte-americano, Barack Obama, que, na sexta-feira considerou "muito preocupante" a possibilidade de que o regime sírio tenha bombardeado uma área rebelde com armas químicas, analisava este sábado, com seus conselheiros, a eventual resposta de seu governo, informou um funcionário da Casa Branca. Obama ordenou seus serviços de inteligência a "coletar fatos e provas para determinar o que aconteceu na Síria" para tomar uma decisão, explicou. Washington anunciou pouco antes a mobilização de forças militares que permitam proporcionar opções a Obama caso o presidente ordene uma intervenção na Síria, mergulhada em um conflito que, desde março de 2011, deixou mais de 100 mil mortos, 7 mil deles crianças, e obrigou milhões de pessoas a fugir, segundo a ONU. O ministro de Defesa norte-americano, Chuck Hagel, destacou que este fato não significa que tomou uma decisão de intervir na Síria. De fato, o país não quis tirar conclusões precipitadas. Um responsável pela defesa em Washington informou que esses meios militares incluem o envio ao Mediterrâneo de um quarto destróier equipado com mísseis de cruzeiro. Segundo a edição deste sábado 'The New York Times', citando um funcionário de Estados Unidos, as autoridades norte-americanas poderiam tomar como exemplo os bombardeios da Otan na guerra de Kosovo em 1999 para realizar uma ação similar contra a Síria sem um mandato da ONU. A Rússia, também aliada do regime sírio, denunciou que o ataque foi "claramente uma provocação" dos rebeldes e considerou que "os pedidos de algumas capitais europeias (...) a tomar agora mesmo uma decisão sobre o uso da força são inaceitáveis". Moscou pediu ao regime de Assad que coopere com os especialistas da ONU e reivindicou aos insurgentes que lhes garanta o acesso aos lugares dos ataques. A coalizão da oposição síria se comprometeu "a garantir a segurança" dos inspetores da ONU. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou na sexta-feira que a utilização de armas químicas constituiria um "crime contra a Humanidade", de "graves consequências para quem o perpetrou".