Mais de oito milhões de cubanos devem votar no domingo em um referendo constitucional, que na realidade discute a vigência do socialismo em meio a fortes pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, empenhado em apagar o sistema político do mapa da América
Mais de oito milhões de cubanos devem votar no domingo em um referendo constitucional, que na realidade discute a vigência do socialismo em meio a fortes pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, empenhado em apagar o sistema político do mapa da América.A nova Carta Magna, que deve substituir a de 1976, reconhece o mercado e o investimento privado e estrangeiro como atores em sua economia de linha soviética, mas sempre sob o comando do único e governante Partido Comunista de Cuba, e afirma que "apenas no socialismo e no comunismo o ser humano alcança a dignidade plena".Na segunda-feira, Trump afirmou em Miami que "os dias do socialismo e do comunismo estão contados na Venezuela, e também na Nicarágua e Cuba", três países apontados como "a troika da tirania" pelo governo americano.O governo cubano organizou uma campanha onipresente nas redes sociais e canais de televisão estatais - os únicos em sinal aberto - para obter a aprovação, com o uso da hashtag #YovotoSí, apelando ao patriotismo e questionando as posições contrárias.A cédula de votação tem apenas uma pergunta "Você ratifica a nova Constituição da República?", com opções para "sim" e "não".Ante as pressões de Trump, "a primeira vitória é a que temos que consolidar (...) no próximo domingo 24 de fevereiro com o voto sim pela Constituição, que é um voto também pelo socialismo, pela pátria, pela revolução, por Fidel e por Raúl", afirmou na quarta-feira o presidente Miguel Díaz-Canel.Ao contrário das tradicionais eleições que acontecem na ilha a cada cinco anos, nas quais os opositores defendem a abstenção, anulação ou voto em branco, desta vez fazem campanha pelo não. Lemas como #YovotoNo, impulsionado pela oposição nas redes sociais, não chegam aos destinatários quando enviados por SMS, comprovou a AFP."Toda esta propaganda criou a imagem de uma espécie de pressão para que as pessoas votem 'sim', e que se você votar 'não' tem um problema. Isto me parece contraproducente", disse à AFP o acadêmico Carlos Alzugaray.Os resultados oficiais preliminares devem ser divulgados na segunda-feira à tarde.Para vencer é necessário obter 50% + 1 dos votos e o governo tem a certeza de uma grande vitória. O voto é facultativo na ilha.O projeto constitucional foi apresentado em julho de 2018 e debatido em fóruns populares entre agosto e novembro. O projeto final, aprovado pelo Parlamento em dezembro, agora vai a referendo.Em caso de aprovação pela população, o texto entrará em vigor após a publicação no Diário Oficial, em data não divulgada.No hipotético cenário de vitória do não, continuaria em vigor a Carta de 1976 e o governo terá que adequar as normas para dar base legal às reformas já aplicadas, mas isto criaria um cenário político sem precedentes em 60 anos.A Constituição de 1976 entrou em vigor com o apoio de 97,7% dos que votaram. A reforma constitucional de 2002 para tornar o socialismo "irrevogável" recebeu 99,3%. A aprovação com um percentual consideravelmente menor terá outras leituras políticas.mav-cb/dga/fp