Anexação da Crimeia foi aplaudida na Rússia, onde muitos consideravam um "erro" sua ligação administrativa com a Ucrânia
O presidente russo Vladimir Putin visitará na próxima semana Cuba, Argentina e Brasil (AFP)
Dezenas de milhares de russos comemoraram nesta quarta-feira (18) com o presidente Vladimir Putin o retorno da Crimeia à esfera russa, um ano após a assinatura do tratado de integração da península ucraniana à Rússia.Muitas cerimônias foram organizadas na Crimeia, que declarou 18 de março dia feriado, enquanto shows e discursos acontecem em frente ao Kremlin, onde um imenso palco foi montado.Ao som de hinos patrióticos, 110.000 pessoas, segundo a polícia, se reuniram no centro da capital russa. "Hoje é um verdadeiro feriado. Trouxemos a Crimeia de volta para a Rússia, as pessoas estão felizes", declarou à AFP Tatiana, uma enfermeira de 43 anos.Vladimir Putin, que se encontrou com líderes da Crimeia em Moscou para discutir o desenvolvimento econômico da região, prometeu à multidão que a Rússia irá "superar os problemas que tentam nos impor do exterior". O presidente russo, que reconheceu que as sanções ocidentais causam danos à economia, assegurou que elas não eram fatais.As festividades de hoje são o ápice de vários dias de festa iniciada na segunda-feira, com a comemoração do referendo de 16 de março de 2014. Dois dias depois, desafiando as sanções ocidentais, que consideraram o referendo ilegal, Putin assinou o decreto de anexação da Crimeia.'Campanha de intimidação'A anexação da Crimeia foi aplaudida na Rússia, onde muitos consideravam um "erro" sua ligação administrativa com a Ucrânia, concedida pelo líder soviético Nikita Krutchev em 1954, e isso permitiu a Putin conquistar uma aprovação sem precedentes, com 90% de popularidade segundo pesquisas.Mas para a Anistia Internacional, que publicou nesta quarta-feira um relatório detalhado, as autoridades locais fiéis a Moscou realizam desde então uma "campanha ininterrupta de intimidações para fazer calar as vozes dissidentes". Jamais reconhecida por Kiev e os ocidentais, a anexação alimenta as aspirações dos separatistas pró-Rússia do Donbass, região no leste da Ucrânia, onde um conflito armado começou em abril e deixou mais de 6.000 mortos.Neste contexto, uma região separatista da Geórgia, a Ossétia do Sul, assinou nesta quarta um acordo de "aliança e integração" com a Rússia, provocando a ira de Tbilissi.Nesta quarta, a televisão russa exibia várias imagens das comemorações.Sebastopol, a maior e tradicionalmente pró-Moscou cidade da Crimeia, devido à presença da frota russa no Mar Negro, organizou um show com a presença de vários cantores russos.O presidente Vladimir Putin, que já havia reconhecido que o comando que tomou o controle do Parlamento da Crimeia em 27 de fevereiro de 2014 era formado por soldados russos, revelou que a Rússia posicionou baterias de mísseis de defesa costeira em um documentário exibido no domingo pela televisão pública. "Precisamos reforçar nossa presença militar na Crimeia para que o número de nossos soldados permitisse criar as condições propícias à organização do referendo", acrescentou."Estávamos prontos para colocar em estado de alerta o dispositivo nuclear ante uma eventual intervenção militar ocidental", assegurou Putin.Um ano depois, a situação econômica da Crimeia é crítica, o que alimenta certo resentimento para com as novas autoridades.A península, que depende da Ucrânia para o abastecimento de água e eletricidade, não possui nenhuma ligação terrestre com a Rússia e sofre com dificuldades de abastecimento de alimentos, cuja escolha é limitada.