As negociações sobre a distribuição de altos cargos na União Europeia (UE) começaram com as forças pró-europeias divididas sobre quem pode aspirar ao posto de sucessor de Jean-Claude Juncker à frente da Comissão Europeia
As negociações sobre a distribuição de altos cargos na União Europeia (UE) começaram com as forças pró-europeias divididas sobre quem pode aspirar ao posto de sucessor de Jean-Claude Juncker à frente da Comissão Europeia.Os governantes europeus se reunirão durante a tarde em Bruxelas para o primeiro debate sobre quem vai liderar o bloco no próximo mandato, depois das eleições para a Eurocâmara que confirmaram o fim do bipartidarismo e um avanço moderado das forças eurocéticas.Os liberais liderados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, já abriram a primeira divisão, porém, ao não apoiarem uma declaração da Eurocâmara que defende o sistema conhecido como "Spitzenkandidat"."Há uma esmagadora maioria de forças pró-europeias a favor", destacou o líder dos eurodeputados socialdemocratas, Udo Bullmann, sobre este sistema que reserva a presidência da Comissão para um dos cabeças de lista que lideraram os partidos durante as eleições.Com 180 eurodeputados de 751, o Partido Popular Europeu (PPE) venceu novamente as eleições, apesar de ter obtido 36 cadeiras a menos do que na legislatura atual. Reclamou o posto de presidente da Comissão para seu candidato Manfred Weber, mas nada será fácil.Apesar das divergências sobre o Spitzenkandidat, socialdemocratas (146 cadeiras) e liberais (109), que se anunciam como os eventuais sócios do PPE em uma coalizão pró-europeia, reivindicam um peso maior nas principais instituições da UE, presididas atualmente pela direita.A nova distribuição de altos cargos deve refletir "a nova maioria no Parlamento Europeu, que não é mais apenas o PPE", afirmou o governo espanhol, após um jantar de trabalho entre o primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez e o presidente Macron na segunda-feira."Os outros têm que dizer o que querem. Nós queremos a presidência da Comissão", reiterou à AFP o presidente do PPE, Joseph Daul.- 'Game of thrones' -A designação do sucessor de Juncker (PPE) à frente do Executivo comunitário, que deve ser validada pela maioria da Eurocâmara, corresponde de fato aos governantes europeus, que intensificaram os contatos nas últimas horas.A correlação de forças no Conselho Europeu será chave. O candidato contemplado pelos líderes deverá contar com o apoio de pelo menos 21 dos 28 chefes de Estado e de Governo, cujos países representem pelo menos 65% da população. A designação formal está prevista para a reunião de cúpula de junho.O PPE, maior força do Conselho, entra na discussão enfraquecido. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, um de seus nove governantes à mesa, acaba de ser derrubado pelo Parlamento. O primeiro-ministro húngaro, o populista Viktor Orban, não apoia Manfred Weber.Os liberais (8 governantes) e os socialistas (5) também precisam coordenar suas posições antes da reunião, mas um grupo representativo das duas tendências deve participar de um almoço de trabalho prévio, a convite do liberal Charles Michel, primeiro-ministro da Bélgica.Além do premier belga, o chefe de Governo holandês, Mark Rutte, e Emmanuel Macron representarão os liberais, enquanto os socialdemocratas contarão com o espanhol Pedro Sánchez, indicado por esta tendência a negociar a divisão de cargos, além do português António Costa."Juntos, socialdemocratas, Verdes e liberais próximos a Macron são, se desejarem, mais fortes do que os conservadores do PPE, que dirigem a Comissão há 15 anos", afirmou o comissário europeu das Finanças, o socialista francês Pierre Mosocivici.Sem o principal partido pró-europeu, social-democratas, liberais e ecologistas - grande surpresa das eleições com 69 deputados - tampouco reúnem maioria no Parlamento europeu, o que anuncia uma negociação complexa.Além da presidência da Comissão, também serão negociados os nomes para comandar o Conselho Europeu, a Eurocámara e o Banco Central Europeu (BCE), assim como a liderança da diplomacia europeia. Os cargos são atribuídos com base em critérios geográficos, políticos e de gênero."Game of Thrones vai começar", advertiu no domingo o socialdemocrata Frans Timmermans, candidato à presidência da Comissão, assim como a liberal Margrethe Vestager. Outro possível aspirante é o francês Michel Barnier, atual negociador do Brexit.tjc/mb/fp/tt