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Princesa provoca terremoto político ao entrar em disputa eleitoral na Tailândia

A princesa Ubolratana, irmã do rei da Tailândia, provocou um terremoto político ao anunciar, nesta sexta-feira (8), que será candidata a primeira-ministra nas eleições de março, nas quais terá como rival o comandante da junta militar que governa o país

AFP
08/02/2019 às 15:50.
Atualizado em 05/04/2022 às 08:56

A princesa Ubolratana, irmã do rei da Tailândia, provocou um terremoto político ao anunciar, nesta sexta-feira (8), que será candidata a primeira-ministra nas eleições de março, nas quais terá como rival o comandante da junta militar que governa o país.A inesperada candidatura da princesa abre um novo cenário político na Tailândia, um país até agora controlado com mão de ferro pelos militares.O palácio real condenou a iniciativa. Em um comunicado transmitido pela televisão, a realiza recorda que "a rainha, o herdeiro e os membros da família real devem estar acima da política e não devem ocupar função política, já que isso estaria em contradição com a Constituição".Pouco antes, Ubolratana Rajakanya, de 67 anos, escreveu no Instagram: "Abandonei meu título de nobreza e vivo como plebeia (...) como uma cidadã normal em respeito à Constituição".Ela assegura agir com "sinceridade" e estar "determinada a se sacrificar para conduzir a Tailândia no caminho da prosperidade".A princesa disputará o cargo de primeira-ministra no governo civil que será formado após as eleições legislativas de 24 de março, por um partido próximo ao clã Shinawatra, grande inimigo da junta militar.A princesa "é nossa candidata ao posto de primeira-ministra" nas eleições, as primeiras desde o golpe de Estado de 2014, anunciou Preechaphol Pongpanich, dirigente do partido Thai Raksa Chart.Este partido é tutelado por Thaksin Shinawatra, bilionário e ex-premier no exílio, odiado pelo Exército, mas muito popular entre a população de baixa renda.Shinawatra, um reformista, sempre foi visto pela velha Guarda Real e pelos militares como uma ameaça à monarquia. A situação motivou dois golpes de Estado militares contra seus governos, em 2006 e 2014.Desde o último golpe militar, liderado por generais próximos ao rei Bhumibol Adulyadej, o monarca faleceu e foi substituído por seu filho Maha Vajiralongkorn. A candidatura da irmã do rei - que segundo os analistas consultados não poderia ter sido decidida sem a aprovação do palácio - é, portanto, um sinal de ruptura sem precedentes com a velha guarda da época Bhumibol.Nenhum membro da família real disputou o cargo de chefe de Governo desde que a Tailândia se tornou uma monarquia constitucional em 1932.- Candidatura inesperada -Após o anúncio da princesa, o comandante da junta que governa o país, Prayut Chan-O-Cha, também anunciou que disputará o cargo, em uma tentativa dos militares de manter sua influência quatro anos após o golpe."Decidi aceitar o convite do Phalang Pracharat de apresentar meu nome ao Parlamento para ser nomeado primeiro-ministro", disse Prayut, em referência ao partido pró-militar fundado em 2018.Prayut Chan-o-Cha e a princesa Ubolratana serão adversários nas eleições, as primeiras no país desde 2011 e que prometem uma grande disputa.Ele lidera a junta militar há quase cinco anos. O regime aprovou uma nova Constituição para redefinir o panorama político e garantir que os militares controlem o poder após as eleições.Sob o comando de Prayut, os militares se apresentaram como os protetores da monarquia. A entrada da princesa Ubolratana no cenário político, ainda mais pelas mãos do grande inimigo da junta, questiona este argumento."É algo inédito. Se (a princesa) virar primeira-ministra, o povo poderá tratá-la como simples plebeia? Quem se atreveria a criticar uma primeira-ministra da realeza?", questiona Puangthong Pawakapan, professora de Ciência Política na Universidade Chulalongkorn, de Bangcoc.De fato, a família real na Tailândia é protegida por uma lei draconiana para impedir qualquer crime de lesa-majestade. Legalmente, as irmãs do rei não são cobertas por esta lei, mas ninguém se atreve a criticá-las por medo de uma pena de prisão de vários anos.Ubolratana, uma personalidade extrovertida que contrasta com a do irmão, o rei Maha Vajiralongkorn, mais discreto, renunciou a seus títulos reais ao casar com um americano há algumas décadas.Após o divórcio do casal, no entanto, ela retornou à Tailândia e ainda é considerada parte da família real.Excelente atleta, além de atriz e cantora esporádica, a princesa havia demonstrado até agora pouco interesse pelo mundo político, dedicando boa parte do seu tempo à divulgação do cinema tailandês em festivais ao redor do mundo.bur-sde/mf/al-me/ra/fp/tt

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