Oito dias após o ataque que matou 38 turistas em um hotel à beira-mar, autoridades do governo também foram afastadas de seus cargos
O chefe de Estado tunisiano, Beji Caid Essebsi, declarou estado de emergência neste sábado (3), oito dias após o ataque sangrento que matou 38 turistas em um hotel à beira-mar.Neste contexto, um conselheiro do primeiro-ministro Habib Essid informou que várias autoridades foram afastadas de seus cargos, incluindo o governador de Sousse, onde ocorreu o atentado."Assim como houveram falhas de segurança, houveram falhas políticas", declarou Dhafer Néji, conselheiro de comunicação do chefe de governo, acrescentando que o governador de Sousse foi demitido, bem como autoridades policiais.O anúncio da proclamação do estado de emergência mais de uma semana depois do atentado tem provocado questionamentos na Tunísia, uma vez que confere poderes de exceção à polícia e ao exército.Ele foi levantado no país em março de 2014, depois de ser constantemente renovado desde janeiro de 2011 e a fuga do presidente Zine El Abidine Ben Ali, na esteira da revolta que lançou a "Primavera Árabe"."Por que oito dias depois? Será que há informações sobre novos ataques? E como isso será aplicado?", questionou o analista independente tunisino Selim Kharrat."Faço essas questões porque o estado de emergência pode ser uma grande ferramenta de repressão. Isso dependerá da vontade política", alertou.O porta-voz da presidência relativizou a questão, lembrando que a Tunísia viveu sob estado de emergência por mais de três anos. "Em circunstâncias excepcionais, medidas excepcionais. (Mas) isso será feito em conformidade com a lei, por um período fixo", assegurou Sinaoui.A Tunísia, que tem enfrentado desde a sua revolução um crescimento dos movimentos jihadistas, responsáveis pela morte de dezenas de policiais e soldados, foi atingida por dois ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI) no espaço de três meses.Cinquenta e nove turistas estrangeiros foram mortos: 21 no Museu do Bardo, em Túnis, em março, e 38 em um hotel à beira-mar em Port El Kantaoui, em 26 de junho.Em uma entrevista exibida na sexta-feira pela BBC, o primeiro-ministro Habib Essid reconheceu que a polícia tinha reagido de forma lenta ao ataque em Port El Kantaoui, o primeiro reconhecimento oficial de falhas de segurança.Após o atentado de Port El Kantaoui, a Tunísia anunciou o destacamento de agentes de segurança armados para proteger praias e pontos turísticos."Mais de 1.400 policiais estão espalhados por várias áreas turísticas para proteger hotéis e praias", indicou o primeiro-ministro Habib Essid, que reconheceu, no entanto, que a polícia reagiu com lentidão.E quarta-feira à noite, dia de entrada em vigor do plano de "excepcional" anunciado pelas autoridades, o ministro do Interior constatou deficiências em Hammamet, grande resort ao sul de Túnis.As autoridades anunciaram a prisão de oito pessoas, incluindo uma mulher, depois do ataque. Essid explicou que eram "amigos" e membros da família do assassino.Neste sábado, os últimos cinco corpos de britânicos mortos no ataque foram repatriados para o Reino Unido.Além das 30 vítimas britânicas, três irlandeses, dois alemães, uma belga, uma portuguesa e uma russa estão entre os mortos.De acordo com as autoridades tunisinas, o homem-bomba, um estudante de 23 anos, formou-se em armas em um campo na Líbia, entregue ao caos e separado da Tunísia por uma fronteira porosa.