"Não por uma pátria livre" e "Não pelo futuro, por nossos filhos", diziam alguns dos cartazes levados pelos manifestantes de um partido de extrema-esquerda ao centro de Atenas
O primeiro-ministro grego falou por telefone com o presidente francês para tratar dos meios "para tonificar as negociações" entre Atenas e seus credores (France Press)
Milhares de partidários do "Não" lotavam a praça Syntagma, no centro de Atenas, para comemorar a vitória no referendo celebrado este domingo (5) na Grécia.Uns 5.000 manifestantes, segundo a polícia, exibiam bandeiras gregas e cartazes com a palavra OXI (Não), repetindo palavras de ordem contra a austeridade.Pouco antes das 22h locais (16h de Brasília), três horas depois do fechamento das seções de votação, metade dos votos já tinham sido contados e colocavam o "Não" com vantagem de 61,21% sobre os 38,74% do "Sim".Mais cedo, um diretor da empresa Singular Logic, encarregada da contagem final dos votos, estimou em mais de 61% a vantagem do "Não" sobre o "Sim"."Não por uma pátria livre" e "Não pelo futuro, por nossos filhos", diziam alguns dos cartazes levados pelos manifestantes de um partido de extrema-esquerda, EPAM (Frente Unidos Popular).Também havia festejos perto da Universidade, onde se concentrava cerca de mil militantes do Syriza.Ao redor da praça Syntagma os manifestantes gritavam "Oxi, oxi", alguns cantavam e outros dançavam.Em um piscar olhos apareceram dezenas de postos de venda de ambulantes de bandeiras gregas e apitos."Estou encantado. É maravilhoso. A vida será diferente a partir de agora", disse à AFO George Kotsakis, de 55 anos.A mesma felicidade expressou Jenny, 27 anos, que estava na praça com uma amiga. "Estou feliz. O 'não' é a melhor opção. Decidimos pensando não no medo e sim no futuro. Espero que o 'não' nos traga um futuro melhor", disse Jenny. Entendimento A vitória do "Não" no referendo na Grécia é "uma ferramenta que servirá para estender uma mão cooperativa aos nossos parceiros, afirmou na noite deste domingo o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, assegurando que a partir de segunda-feira, o governo vai trabalhar para chegar a um entendimento com a UE e o FMI. "Nós vamos negociar de uma forma positiva com o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia", disse o ministro, enquanto cerca de dois terços dos votos contados davam uma vantagem de mais de 61% ao "Não" contra 38% para o "Sim" no referendo convocado pelo premiê Alexis Tsipras.Primeiro-ministro O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, falou por telefone, na noite deste domingo com o presidente francês, François Hollande, informou à AFP uma fonte governamental grega, cerca de uma hora após a publicação dos resultados parciais do referendo, que davam uma vantagem de mais de 20 pontos ao "Não".Segundo a TV pública Ert, a conversa entre os dois dirigentes tratou dos meios "para tonificar as negociações" entre Atenas e seus credores, a UE e o FMI, após o fracasso das discussões do Eurogrupo (reunião de ministros das Finanças da zona do euro) de 25 de junho, que antecedeu a convocação do referendo.Queda do euro O euro recuava neste domingo ante o dólar, enquanto o "não" se encaminhava para uma vitória no referendo na Grécia sobre a proposta dos credores do país, após a apuração de metade dos votos.Um euro valia 1,0987 dólar por volta das 19h15 GMT (16h15 de Brasília), baixa de 1,20% com relação ao fechamento da noite de sexta-feira, nas negociações eletrônicas que antecedem a abertura dos mercados asiáticos. Pouco antes, a moeda única europeia havia caído a 1,0963 por dólar. Com 50% dos votos apurados, o "Não" vencia com 61,21% dos votos às 18h50 GMT (15h50 de Brasília).Uma vitória do "Não" abriria um período de incertezas, temido pela comunidade financeira, sobre o futuro da Grécia na zona do euro e questionaria, ainda, a solidez da união monetária, avaliam analistas.Fortalecido por estes resultados parciais favoráveis, o governo do premiê Alexis Tsipras manifestou neste domingo a vontade de se sentar à mesa de negociações a partir da segunda-feira.O porta-voz do governo grego, Gabriel Sakellaridis, afirmou que "as iniciativas para alcançar um acordo" entre Atenas e seus credores, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), "se intensificariam a partir desta noite". A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, se reunirão na tarde de segunda-feira, em Paris, "para avaliar as consequências do referendo na Grécia", informou a Presidência francesa em um comunicado. Pontes queimadas O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, "rompeu as últimas pontes" entre a Grécia e a Europa e é "difícil imaginar" novas negociações após a vitória do "Não" no referendo deste domingo, afirmou o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel. Tsipras e seu governo estão levando a Grécia por um caminho de "amarga renúncia e desesperança", disse Gabriel ao jornal Tagesspiegel na primeira reação de um funcionário de alto escalão do governo alemão aos resultados do referendo na Grécia, após a vantagem de 61,21% do "Não" sobre o "Sim" com metade dos votos contados. Gabriel lamentou que Tsipras tenha "rompido as últimas pontes que Europa e Grécia poderiam ter cruzado para buscar um compromisso".