CASAIS

Papa: há necessidade da separação em alguns casos

O Papa Francisco falou das "feridas profundas" que provoca a separação aos filhos e rejeitou o termo "casais irregulares"

France Press
24/06/2015 às 11:08.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:42
Escolhas do papa Francisco desagradaram a Comissão Antipedofilia (France Press)

Escolhas do papa Francisco desagradaram a Comissão Antipedofilia (France Press)

O papa Francisco reconheceu nesta quarta-feira que a separação do casal em alguns casos é inevitável e até "moralmente necessária", principalmente quando reina a violência no lar, em uma clara mensagem de abertura ante os desafios da família moderna."Existem casos em que a separação é inevitável, inclusive moralmente necessária, para tirar os filhos da violência e da exploração e até da indiferença e estranhamento", afirmou o Papa ante milhares de peregrinos reunidos na audiência-geral de quarta-feira na praça de São Pedro."Peçamos ao Senhor uma grande fé para ver a realidade com o olhar do Senhor", enfatizou.A mensagem do Papa foi lançada um dia depois da apresentação no Vaticano do documento que guiará em outubro o sínodo dos bispos de todo o mundo dedicado à família e no qual propõe "acompanhar os divorciados e as famílias com filhos gays".O Papa falou das "feridas profundas" que provoca a separação aos filhos e rejeitou o termo "casais irregulares"."Não estaremos anestesiados em relação às feridas da alma dos filhos? Quando mais se tenta compensar com presentes, mais se perde o sentido das feridas da alma", afirmou."Como acompanhar os casais em dificuldades?", questionou ainda.A reflexão faz parte dos intensos debates que os bispos mantêm há mais de um ano sobre como encarar os desafios das famílias contemporâneas, em particular a delicada questão de autorizar a comunhão para os divorciados que voltaram a casar, argumento que gera divisões.A Santa Sé revelou que conseguiu um "acordo comum" para propor um "caminho penitencial", sob a autoridade dos bispos, para reintegrar à Igreja católica os divorciados que voltaram a se casar, algo que foi considerado um sinal de abertura.Sinais de aberturaO Vaticano reafirmou claramente na terça-feira a indissolubilidade do casamento, mas abrindo caminho para a reflexão e encorajando os casais casados civilmente a dizer sim na Igreja, no documento de trabalho do sínodo.Este "instrumentum laboris" de 147 artículos, apresentado terça-feira à imprensa, aparece como uma síntese entre a abertura prudente de alguns prelados ocidentais sobre os divorciados, os homossexuais, as uniões civis, e a reafirmação da doutrina do casamento indissolúvel entre um homem e uma mulher.Ele reflete o profundo embaraço da Igreja, dividida entre conservadores, especialmente nos países do sul, contra qualquer mudança, e uma linha mais moderna, ansiosa por aberturas reais.Toda relação final do primeiro sínodo de outubro de 2014, incluindo três parágrafos contestados que não atingiram a maioria de dois terços (sobre os divorciados e os homossexuais), foi retomada e enriquecida com uma reflexão sobre centenas de respostas fornecidas pelas dioceses a um questionário enviado por Roma.Sob condições muito estritas, "um caminho penitencial" poderia permitir divorciados que voltaram a se casar ??civilmente a receber a Comunhão.O documento refere-se a um "consenso" em torno deste "caminho" para os divorciados ?cujo primeiro casamento seria reconhecido como inválido e que já estariam envolvidos em uma "relação irreversível".Um "amplo consenso" também parece incidir sobre um melhor acesso aos procedimentos de invalidação matrimonial, "eventualmente gratuito", enquanto o processo atual é pago e extremamente complexo.O documento também observa o aumento da coabitação e dos casamentos civis: "é desejável promover caminhos para que as pessoas que coabitam ou que sejam casadas no civil possam chegar ao casamento religioso.".O documento menciona brevemente os homossexuais, citando "projetos de acompanhamento pastoral" para a sua integração na Igreja. "Mas não há base para estabelecer analogias entre as uniões homossexuais e o plano de Deus para o casamento e a família", reafirma o documento."Sobre o casamento, entendemos como o casamento entre um homem e uma mulher", realidade "distinta" das uniões homossexuais, salientou o relator geral do sínodo, o bispo italiano Bruno Forte.No entanto, a Igreja tem o "desafio pastoral" de garantir "que ninguém, incluindo os homossexuais, ninguém se sinta excluído", acrescentou o prelado.O secretário-geral do sínodo, o cardeal Lorenzo Baldisseri, se declarou contra a "confusão" contemporânea sobre o conceito de família, citando o papa Francisco para argumentar que "a supressão da diferença (entre homens e mulheres) é o problema, não a solução".A posição conservadora dos prelados africanos é visível em um parágrafo de texto, considerando qualquer pressão "inaceitável" e denunciando a pressão de organismos internacionais, que "condicionam a ajuda financeira aos países pobres à introdução de leis que instituem o casamento entre pessoas do mesmo sexo".

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