O papa Francisco encerra neste domingo (21) sua visita ao Peru com uma missa multitudinária em Lima, em uma viagem iniciada no Chile, manchada pelo escândalo que persegue a Igreja provocado por abusos sexuais do clero contra menores
O papa Francisco encerra neste domingo (21) sua visita ao Peru com uma missa multitudinária em Lima, em uma viagem iniciada no Chile, manchada pelo escândalo que persegue a Igreja provocado por abusos sexuais do clero contra menores.O sumo pontífice precisou esperar a chegada ao Peru para sentir-se acolhido pelos católicos, que foram em massa às ruas para recebê-lo, diferentemente da frieza com a qual foi tratado no Chile.Visivelmente cansado depois de uma semana na qual percorreu milhares de quilômetros para visitar seis cidades nos dois países e com uma agenda cheia de atos, o papa alçou a voz para repreender e pedir unidade em uma Igreja, a peruana, desgarrada pelas facções.Às religiosas da vida contemplativa do Senhor dos Milagres recordou que as "fofocas" nos conventos ameaçam a unidade da Igreja e comparou o hábito aos "terroristas, que jogam a bomba e vão embora"."Freiras terroristas não. Que mordam a língua!", lançou o pontífice, arrancando gargalhadas e sorrisos de dezenas de religiosas.Aos bispos disse: "trabalhem pela unidade, não fiquem presos em divisões que parcializam e reduzem a vocação".Em seu último dia em Lima, com uma população de nove milhões de habitantes, Francisco também irá rezar ante as relíquias dos quatro santos peruanos que repousam na catedral - as do quinto, Francisco Solano, foram roubadas há 25 anos e nunca apareceram - e fará a oração do Angelus.Ele terminará a visita com uma missa multitudinária, para a qual são esperadas cerca de um milhão de pessoas, na base aérea de Las Palmas, sul da capital, antes de embarcar no voo de volta a Roma, encerrando sua sexta viagem à região em quase cinco anos de pontificado.No Chile, país com a renda per capita mais alta da região, o papa tentou estancar as feridas de uma Igreja profundamente desacreditada pelos abusos sexuais de religiosos e que ofuscaram o foco na questão indígena, durante visita a Temuco (sul), e na migração, em Iquique (norte), que Francisco queria dar à primeira visita de um pontífice ao país em mais de 30 anos.No Peru, onde sua figura apaixona os fiéis, a destruição da Amazônia, a corrupção, o crime organizado e o feminicídio, que convertem a América Latina na região mais violenta do planeta e menos segura para a mulher, foram os flagelos denunciados pelo papa em suas visitas a Puerto Maldonado (na Amazônia), Trujillo (norte) e Lima.- Sabor agridoce -Mas Jorge Mario Bergoglio, de 81 anos, voltará a Roma com um sabor agridoce desta visita. Sua defesa firme do bispo chileno Juan Barros, acusado de encobrir um sacerdote condenado pelo Vaticano por abusos sexuais a menores nos anos 1980 e 1990, prejudicou seus atos de contrição e suas declarações de "dor e vergonha" por estas ações devastadoras para a imagem da Igreja Católica, em um país que perde adeptos de forma acelerada.O pontífice se reuniu com vítimas de abusos em Santiago, com as quais "chorou" por estas atrocidades, mas isso não o impediu de denominar de "calúnias" as acusações contra o bispo, do qual se despediu afetuosamente com um abraço em Iquique.Em um gesto incomum, o cardeal Sean O'Malley, assessor próximo do pontífice em sua qualidade de diretor da Comissão vaticana de Prevenção da Pedofilia na Igreja, no sábado se afastou publicamente de Francisco.Para o arcebispo de Boston, é "compreensível" que as declarações e o comportamento do papa com o bispo Barros tenham causado "uma grande dor" às vítimas no Chile."As palavras que enviam a mensagem de que 'se não podem provar suas acusações, ninguém vai acreditar' abandonam os que sofrem estupros criminosos repreensíveis em sua dignidade humana e relegam os sobreviventes a um exílio desacreditado", considerou o prelado em comunicado.O cardeal O'Malley tinha previsto se encontrar neste domingo com o papa em Lima, segundo antecipou no sábado o jornal National Catholic Reporter.- Defesa da mulher -Após denunciar em Puerto Maldonado a violência contra a mulher e o tráfico de pessoas - a "escravidão moderna -, e visitar em Santiago uma prisão feminina, o papa condenou a "praga" dos "feminicídios" em Trujillo, atingida pelo tráfico de drogas e pela insegurança, e convidou a população a "lutar contra esta fonte de sofrimento, pedindo que se promova uma legislação e uma cultura de repúdio a toda forma de violência".Esta foi a primeira vez que saiu da boca do papa a palavra feminicídio, um crime de ódio, em um contexto de discriminação e violência de gênero que se dá majoritariamente nos lares e nas relações de casais, e um flagelo que custou a vida de milhares de mulheres na região.Segundo a ONU, metade dos 25 países com mais casos de feminicídio no mundo é latino-americana.