Francisco também condenou a lógica que descarta "todos aqueles que não produzem" e não fornecem resultados, apenas porque "não nos dão números, não fecham as contas"
Papa Francisco realiza desde domingo (5) uma visita à América do Sul (France Press)
O papa Francisco atacou a cultura "do descarte" e do consumo em sua primeira missa aos pés do Cristo Redentor de Santa Cruz, em seu segundo dia de visita à Bolívia."Jesus nos diz nesta praça: 'Sim, basta de descarte'", exclamou o papa argentino depois de criticar a "lógica que busca transformar tudo em objeto de troca, de consumo, tudo negociável", a uma multidão reunida na grande Praça de Cristo Redentor.Francisco também condenou a lógica que descarta "todos aqueles que não produzem" e não fornecem resultados, apenas porque "não nos dão números, não fecham as contas"."Não é necessário que ninguém vá embora. Basta de descarte, dar-lhes de comer", disse ele, lembrando o Evangelho da multiplicação dos pães e dos peixes.Em sua homilia, pronunciada pela primeira vez a milhares de índios de várias etnias da Bolívia, quechuas e aymaras, que vieram de diferentes regiões do país, Francisco falou dos esquecidos e descartados no mundo, particularmente as mulheres, que "carregam sobre os ombros (...) as injustiças que não parecem parar", lamentou."Elas carregam a alegria e a dor de uma terra. Vocês carregam a memória de um povo", reconheceu ao mencionar as populações antigas do continente.O chefe da Igreja Católica advertiu todos os bolivianos que um povo sem memória ou uma "memória anestesiada" se torna "individualista", "enfraquece as esperanças" e "perde a alegria", um conceito que também tratou no Equador, primeira etapa de sua viagem à América do Sul, que começou no domingo e que termina oito dias depois no Paraguai."O olhar de Jesus não aceita uma lógica que sempre corta a linha pelo lado mais fraco, dos mais necessitados", clamou.Desde o início de seu pontificado, de março de 2013, o Papa tem ressaltado a importância de superar uma "cultura de descarte" e promover a "cultura do encontro" para avançar em direção a um mundo mais justo e pacífico."Uma vida memoriosa necessita dos outros, da troca, do encontro, de uma solidariedade real que seja capaz de entrar na lógica de tomar, bendizer e entregar, na lógica do amor", disse.