Visita relâmpago a Saravejo tem como objetivo promover a paz e a coexistência entre sérvios, croatas e muçulmanos
Visita papal transcorreu sem incidentes, apesar de um delicado contexto de segurança, na análise de especialistas (AFP)
O papa Francisco denunciou o "clima de guerra" reinante no mundo em uma missa neste sábado (6) em Sarajevo, durante uma visita relâmpago com o objetivo de promover a paz e a coexistência entre sérvios, croatas e muçulmanos.O avião do sumo pontífice decolou às 18h40 GMT (15h40 em Brasília) para Roma, após uma visita de menos de dez horas. A visita papal transcorreu sem incidentes, apesar de um delicado contexto de segurança, na análise de especialistas.Reivindicando pertencer ao Estado Islâmico (EI), islamitas convocaram a jihad nos Bálcãs em um vídeo divulgado para a imprensa local antes da passagem do papa Francisco.Diante de 65.000 fiéis reunidos no estádio olímpico da cidade, o pontífice afirmou sentir um "clima de guerra" no mundo, estimulado "deliberadamente" por aqueles que "buscam o confronto entre as distintas culturas e civilizações"."Sarajevo e Bósnia têm um significado especial para a Europa e para o mundo inteiro", disse o papa argentino um pouco antes de chegar à capital bósnia, onde foi recebido por 100.000 pessoas."Fazer a paz é um trabalho artesanal: requer paixão, paciência, experiência, afinco. Fazer a paz é um trabalho que se realiza a cada dia, passo a passo, sem cansar jamais", declarou aos fiéis.A coexistência de três comunidades de confissões diferentes "mostra ao mundo inteiro que a colaboração entre distintas etnias e religiões para o bem comum é possível", insistiu Francisco."Mas particularmente aqui, na Bósnia, é preciso fazer mais", completou, olhando para o presidente bósnio em exercício, Mladen Ivanic.Este último é o representante sérvio na presidência tripartite (sérvia, croata, muçulmana) do país. A igualdade de todos os cidadãos diante da lei é "indispensável", defendeu.Ivanic declarou que as autoridades multiétnicas bósnias estão "dispostas a trabalhar para a redução dos nacionalismos" e pediu o "apoio total" do pontífice à adesão da Bósnia e de outros países dos Bálcãs à União Europeia."A Bósnia é parte integrante da Europa", respondeu o papa, que pediu à comunidade internacional - a UE em particular - que ajude estes países.Essa colaboração é "fundamental", destacou.Francisco seguiu para o estádio olímpico no papamóvel, descoberto, e saudou os fiéis, como costuma fazer em suas viagens."Estou aqui, porque desejo que a paz reine no mundo inteiro e que as guerras e o ódio acabem", afirmou o médico Branimir Vujca, de 50 anos, de Kiseljac (centro), que foi ao estádio acompanhado da mulher e dos três filhos adolescentes.A guerra da Bósnia (1992-1995) deixou quase 100.000 mortos e mais de dois milhões de refugiados e deslocados, mais da metade da população do país. Sem uma verdadeira reconciliaçãoVinte anos depois dos acordos de Dayton, que acabaram com a guerra entre sérvios ortodoxos, croatas católicos e muçulmanos bósnios, a cidade está em paz, mas parece uma paz simulada, sem uma verdadeira reconciliação, apesar dos esforços da sociedade civil nesse sentido."A Bósnia precisa da mensagem de paz que o papa enviará em um momento, no qual continua havendo uma falta de confiança entre as três comunidades do país", comentou a croato-bósnia Katarina Dzrek, que compareceu especialmente para ver o sumo pontífice.Antes de encerrar a visita, o papa deixou de lado seu último discurso previsto e respondeu algumas perguntas dos jovens. Sob aplausos, disse-lhes que eles representam "a primeira geração do pós-guerra" e que a esperança de um futuro em paz está em suas mãos.Os muçulmanos são maioria nesse país de 3,8 milhões de habitantes, onde representam quase 40% da população. Depois, aparecem os ortodoxos sérvios (31%) e os católicos (10%), em sua maioria croatas. Os judeus são uma pequena minoria.