Na América Latina as pessoas "convivem" com os mortos e isso é especialmente evidente em uma ilha amazônica, um drama fantástico que a brasileira Beatriz Seigner apresentou nesta quarta-feira no Festival de San Sebastián
Na América Latina as pessoas "convivem" com os mortos e isso é especialmente evidente em uma ilha amazônica, um drama fantástico que a brasileira Beatriz Seigner apresentou nesta quarta-feira no Festival de San Sebastián."Los silencios", segundo longa-metragem da diretora, vai até a "ilha da fantasia", um pedaço de terra entre Brasil, Perú e Colômbia onde os vivos vivem com seus fantasmas."É um filme de fronteiras, entre culturas, entre os vivos e os mortos, entre o documentário e a ficção, entre as águas dos rios que confluem", explicou Seigner após a projeção de seu filme no norte da Espanha.Com uma espetacular fotografia no meio da floresta, o filme acompanha Amparo, interpretada pela atriz colombiana Marleyda Soto, deslocada com seus dois filhos. Um dia, em seu novo lar, ressurge o pai, desaparecido tempos antes durante o conflito colombiano."Há uma coisa em toda a América Latina, que é de conviver com os mortos, com os espíritos, de não ter medo deles", disse Seigner."Estas presenças podem ser de amor, de cuidado. Os mortos cuidam dos vivos", apontou a diretora, cujo primeiro filme, a coprodução Índia-Brasil "Bollywood Dream" (2010), fez sucesso nos festivais.Em uma viagem, Seigner descobriu a "ilha da fantasia", um lugar peculiar que passa vários meses por ano debaixo d'água, e ali falaram "dos fantasmas da ilha", assim ela percebeu que era "o lugar perfeito para este filme".A ilha também serviu de símbolo do "estado de suspensão" dos deslocados ou imigrantes "que estão esperando por um visto e estão nesse estado de espera".Lá também conheceu vários dos personagens dessa coprodução entre Brasil, Colômbia e França, já que mistura "atores profissionais com a população local"."A avó, a vendedora de peixes, são todas pessoas que encontrei na busca e incorporei sua história no roteiro", conta Seigner, que também exibiu seu trabalho na Quinzena de Diretores de Cannes.- Um drama impossível de fingir -Para uma das cenas mais sensíveis e difíceis, a cineasta reuniu guerrilheiros, paramilitares e parentes de vítimas, todos de luto. O resultado foi uma catarse."É impossível para alguém atuar nesse tipo de drama", explicou a diretora sobre sua decisão de deixas que eles mesmos contassem suas histórias.O roteiro recorre a anedotas reais, como uma tentativa de desalojamento dos moradores para a construção de um cassino."É algo que me contaram, e que acontece em muitas partes da Amazônia, onde uma comunidade se desenvolve e então descobrem algo valioso e tentam substituí-los", disse Seigner."'Abuelita' foi quem enfrentou as autoridades que queriam tirá-los de lá e ainda estão resistindo", acrescentou."Los silencios" disputa no Festival de San Sebastian na seção de Horizonte Latinos.Os prêmios serão entregues no sábado à noite na festa de encerramento do festival.du/avl/mb/mr