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Os EUA decidem hoje o seu destino

Num país polarizado e fustigado pela pandemia, eleitores irão às urnas para escolher entre Trump e Biden

France Press
03/11/2020 às 09:41.
Atualizado em 27/03/2022 às 18:21
Donald Trump quer se livrar do vexame de ser um dos raros presidentes que não conseguiu se reeleger enquanto Biden espera reunificar a nação (Jim Watson, Brendan Smialowski/AFP)

Donald Trump quer se livrar do vexame de ser um dos raros presidentes que não conseguiu se reeleger enquanto Biden espera reunificar a nação (Jim Watson, Brendan Smialowski/AFP)

Milhões de norte-americanos irão às urnas hoje numa eleição polarizada para escolher quem vai governar o país mais afetado pela pandemia no munto todo. Na véspera das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Donald Trump fez o esforço final com a esperança de contrariar as pesquisas, que apontam seu rival democrata, Joe Biden, como o favorito.  Apesar das pesquisas, o presidente de 74 anos prevê uma "onda" republicana. "Vamos ganhar mais quatro anos em nossa magnífica Casa Branca", afirmou no domingo em um comício na Carolina do Norte. Trump luta para não ser o primeiro presidente em mais de 25 anos a não conquistar um segundo mandato. No último dia de campanha, ele teve cinco eventos em quatro estados: Carolina do Norte, Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.  O último ato de campanha aconteceu em Grand Rapids (Michigan), como em 2016, quando conquistou uma vitória que surpreendeu o mundo.  Biden, 77 anos, se concentrou na Pensilvânia, onde espera triunfar para conquistar a presidência.  "Mais dois dias! Em dois dias podemos acabar com esta presidência que desde o início tentou nos dividir", afirmou o democrata no domingo em um comício na Filadélfia.  "Da última vez (em 2016), Donald Trump venceu na Pensilvânia com uma vantagem de apenas 44.000 votos de mais de 6 milhões de votos", recordou. "Cada voto conta", disse. Preocupação Um mês depois de sua infecção pelo coronavírus, o presidente americano não dá mostras de cansaço e percorre o país há mais de uma semana, com pouco tempo em Washington.  Diante da forte polarização do país, alguns temem que os partidários dos dois candidatos ocupem as ruas caso os resultados demorem a ser divulgados.  Trump negou no domingo que pretenda declarar-se vencedor caso os resultados sejam incertos, uma possibilidade especulada pelos meios de comunicação. "Quando as eleições terminarem, nossos advogados estarão preparados", completou, no entanto, ao sugerir a possibilidade uma longa batalha judicial em caso de resultados acirrados. "Minha resposta é que o presidente não vai roubar estas eleições", disse Biden.  De acordo com o jornal New York Times, Trump deseja celebrar uma noite eleitoral nos salões da Casa Branca e planeja receber até 400 convidados.  Hoje à noite, Biden discursará à nação de seu reduto em Wilmington, no estado de Delaware.  A recordação de 2016 As pesquisas apontam a vantagem do democrata. Uma pesquisa do New York Times e do Siena College publicada no domingo mostra Biden à frente de Trump na Pensilvânia, Arizona, Flórida e Wisconsin, quatro estados decisivos em que o presidente venceu há quatro anos.  Mas os analistas pedem cautela, recordando as eleições de 2016, quando Trump conseguiu uma das maiores surpresas da história política americana ao derrotar Hillary Clinton. O ambiente da noite eleitoral dependerá em grande medida da ordem de anúncio dos resultados nos estados chaves.  Uma vitória de Biden na Flórida, onde os resultados podem ser anunciados de maneira rápida, talvez acabasse com o suspense. As pesquisas apontam uma pequena diferença entre os dois candidatos no estado.  Mais de 93 milhões de americanos votaram de maneira antecipada para evitar aglomerações hoje, em plena pandemia, o que permite antecipar uma taxa de participação recorde.  No sistema americano, o presidente não é eleito pelo voto popular de todo o país, e sim pelos chamados 'grandes eleitores' de cada estado.  Em 2016, Trump recebeu quase três milhões de votos a menos que Hillary Clinton, mas conquistou a maioria no Colégio Eleitoral.  O ex-presidente democrata Barack Obama, muito envolvido na reta final da campanha, visitou nesta segunda-feira Atlanta, na Geórgia, e Miami, na Flórida, para apoiar a candidatura daquele que foi seu vice-presidente durante oito anos.  Obama pediu nas últimas semanas para que as pessoas não repitam o que chamou de erros de 2016. "Muitas pessoas ficaram em casa, foram preguiçosas e complacentes. Desta vez não! Não nestas eleições", afirmou em um comício. Democracia contrasta com eleição indireta No sistema eleitoral dos EUA, vence quem consegue a maioria no Colégio Eleitoral e não no voto popular, um sistema indireto, que alguns consideram anacrônico. Funciona da seguinte forma: os 538 integrantes do Colégio Eleitoral se reúnem nas respectivas capitais de seus estados a cada quatro anos após a eleição para designar o vencedor. Para vencer, um candidato à presidência deve obter a maioria absoluta dos votos do Colégio: 270. O sistema está em vigor desde a Constituição de 1787, que estabelece as regras da eleição presidencial indireta com apenas um turno. Os pais fundadores dos EUA consideravam o mecanismo um compromisso entre uma eleição do presidente pelo voto universal direto, que poderia levar os estados mais populosos a prevalecer sobre os demais, e uma eleição por parte do Congresso, considerada na época pouco democrática. Centenas de propostas de emenda para modificar, ou eliminar, o Colégio Eleitoral foram apresentadas ao Congresso ao longo dos anos, mas nenhuma teve êxito. O debate retornou com a vitória de Trump em 2016 sobre Hillary Clinton. O Colégio é composto em sua maioria por legisladores locais e líderes estaduais de seus partidos, mas seus nomes nunca aparecem nas cédulas de votação. Cada estado tem o mesmo número de votos no Colégio Eleitoral que de legisladores na Câmara e no Senado. Trump, um capítulo singular na história norte-americana "Algumas pessoas pensam que sou um verdadeiro gênio". Com provocações, insultos e tuítes debochados, Donald Trump escreveu um capítulo singular na história americana. Tanto é verdade que a eleição de hoje, onde buscará, aos 74 anos, um segundo mandato, se apresenta como um verdadeiro referendo sobre sua pessoa, sobre um estilo de presidência completamente novo. Ao mesmo tempo sintoma e multiplicador dos medos e fraturas dos Estados Unidos, este presidente "showman" sempre se recusou, uma vez instalado na Casa Branca, a assumir o papel de conciliador, em uma ruptura assumida com os seus antecessores.  Mesmo no auge da pandemia de Covid-19, que ceifou mais de 226.000 vidas nos Estados Unidos, quando o país buscava uma liderança estável e tranquilizadora, ele rejeitou obstinadamente qualquer demonstração de empatia. Durante quatro anos, os americanos testemunharam, com entusiasmo, angústia ou medo, o espetáculo sem precedentes de um presidente que chegou ao poder com um estrondo e sem restrições impostas.  Em um mandato repleto de escândalos, o septuagenário manchou a função presidencial, atacou juízes, legisladores e funcionários e alimentou tensões raciais e gerou vários incidentes internacionais. Biden espera concretizar promessa de unificar o país Joe Biden sofreu profundas perdas pessoais e viu suas primeiras ambições políticas obstruídas, mas o veterano político democrata espera que sua promessa de unificar os Estados Unidos o leve à presidência, após quase meio século em Washington. Não é comum que os perfis dos dois candidatos à presidência dos Estados Unidos sejam tão diferentes, mas na disputa de 2020 a personalidade amigável de Biden, com sua origem modesta, se opõe à personalidade exultante de Trump, um empresário que nasceu em um círculo de privilégios mas que insiste ser o candidato 'outsider'. Em sua longa ambição de chegar à Casa Branca, que começou há décadas e inclui duas tentativas infrutíferas, este político otimista com base eleitoral em Delaware afirma que pode mudar o estado de espírito dos EUA, passando da "raiva e suspeita à dignidade e respeito".  Aos 77 anos, Biden lidera as pesquisas e está perto de tornar-se a pessoa mais velha a assumir a presidência dos EUA. Entrou para a política aos 29 anos como senador por Delaware em 1972. Um mês depois, uma tragédia abalou sua vida: sua primeira esposa, Neilia Hunter, e sua filha de um ano morreram em um acidente de carro.  Seus dois filhos ficaram feridos, mas sobreviveram. O mais velho, Beau, morreu vítima de câncer em 2015.

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